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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Capítulo 2 do Gênesis, explicado por Flávio Josefo


Capítulo 2

Caim mata seu irmão Abel, Deus o expulsa. Sua posteridade é tão má quanto ele. Virtudes de Sete, outro filho de Adão.
6. Gênesis 4. Adão e Eva tiveram dois filhos e três filhas. O primeiro chamava-se Caim, que significa "aquisição", e o segundo, Abel, que quer dizer "aflição". Os dois eram de temperamentos completamente opostos. Abel, que era pastor de reba­nhos, era mais justo. Considerava que Deus se fazia presente em todas as suas ações e só pensava em agradar-lhe. Caim, ao contrário, que por primeiro trabalhou a terra, era muito mau. Buscava apenas proveito próprio. A sua horrível impiedade levou-o ao excesso de furor, a ponto de matar o próprio irmão. Eis a causa disso:
Ambos resolveram oferecer um sacrifício a Deus, Caim, dos frutos de seu trabalho, e Abel, do leite e das primícias de seu rebanho. Deus demonstrou aceitar melhor o sacrifício de Abel, que era produção livre da natureza, do que a oferta que a avareza de Caim dela havia tirado quase à força. O orgulho de Caim não pôde tolerar que Deus tivesse preferido o irmão a ele: matou-o e escondeu o corpo, esperando que assim ninguém tivesse ciência de seu crime. Deus, porém, a cujos olhos nada há de oculto, perguntou-lhe onde estava o irmão, que não via há vários dias, pois antes eles estavam sempre juntos. Caim, não sabendo o que responder, disse primeiro que se admirava de também não o ter visto mais. Todavia, como Deus insistisse, respondeu-lhe insolentemente que não era nem senhor nem guarda do irmão e que não se havia encarrega­do de cuidar daquilo que não lhe dizia respeito. Deus então lhe perguntou como se atrevia a afirmar nada saber do que acontecera ao irmão, se ele mesmo o havia mata­do. E, se Caim não tivesse oferecido imediatamente um sacrifício para acalmar-lhe a cólera, teria recebido naquele mesmo instante o castigo que o seu crime bem merecia. Deus, no entanto, amaldiçoou-o, ameaçou castigar os seus descendentes até a sétima geração e expulsou-o. Porém, como Caim temesse que, andando errante, animais ferozes o devorassem Deus o tranqüilizou contra esse temor. Deu-lhe um sinal, com o qual podia ser reconhecido, e ordenou-lhe que se fosse.
7. Depois de haver atravessado diversos países, Caim estabeleceu residência em um lugar chamado Node, onde teve vários filhos. No entanto o castigo, em vez de torná-lo melhor, fê-lo, ao contrário, muito pior. Abandonou-se a toda sorte de praze­res e até usou de violência, apoderando-se de bens alheios para enriquecer-se. Reu­niu homens maus e celerados, dos quais se tornou o chefe, e ensinou-os a cometer toda espécie de crimes e de ações ímpias. Mudou a inocente maneira de viver que adotara no princípio, inventou os pesos e as medidas e substituiu a franqueza e a sinceridade, tão mais louváveis e simples, pela astúcia e pelo engano. Ele foi o pri­meiro a estabelecer limites para a divisão de propriedades e construiu uma cidade. Chamou-a Enoque, nome de seu filho mais velho, rodeou-a de muralhas e a povoou.
Enoque teve por filho Irade, Irade gerou Meujael, Meujael a Metusalém e Metusalém a Lameque. Lameque teve setenta filhos de suas duas esposas, Zilá e Ada, um dos quais, de nome Jabal, filho de Ada, foi o primeiro a morar embaixo de tendas e de pavilhões, levando uma vida de simples pastor. Jubal, seu irmão, inventou a música, o saltério e a harpa. Tubalcaim, filho de Zilá, sobrepujava a todos os outros em coragem e força, e foi grande comandante. Nesse entretempo, enriqueceu e serviu-se de suas riquezas para viver ainda mais suntuosamente do que até então. Ele inventou a arte de forjar e teve apenas uma filha, de nome Naamá. Como Lameque era muito instruído nas coisas divinas, julgou facilmente que sofreria a pena do assassínio de Caim, na pessoa de Abel, e disse-o às suas duas mulheres.
Eis como a posteridade de Caim chafurdou-se em toda espécie de crimes. Não se contentaram em imitar os de seus pais, mas inventaram outros. Entre eles, havia assassínios e latrocínios, e os que não mergulhavam as mãos em san­gue estavam cheios de orgulho e de avareza.
8. Adão ainda vivia e tinha cento e trinta anos. A morte de Abel e a fuga de Caim fizeram-no desejar ardentemente outros filhos. E teve mesmo vários: depois de viver ainda oitocentos anos, morreu na idade de novecentos e trinta anos.
9. Seria demasiado longo discorrer sobre todos os filhos de Adão. Contentar-me-ei em dizer algo de um deles, de nome Sete. Educado junto de seu pai, deu-se com afeto à virtude. Deixou filhos semelhantes a ele, que permaneceram em sua terra, onde viveram felizes e em perfeita união. Deve-se ao seu espírito e ao seu trabalho a ciência dos astros. Como os seus filhos haviam sido informados por Adão que o mundo pereceria pela água e pelo fogo, o medo de que essa ciência se perdesse antes que os homens a aprendessem levou-os a construir duas colunas, uma de tijolos e outra de pedras, e sobre elas gravaram os conhecimentos que possuíam. Se um dilúvio destruísse a coluna de tijolos, ficaria a de pedras, para conservar à poste­ridade a memória daquilo que haviam escrito. A previdência deles deu bom resulta­do, e afirma-se que a coluna de pedras pode ser vista ainda hoje, na Síria.

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