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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

CHAMADO AOS NÃO CONVERTIDOS




Sermão
(nº. 174)
Pronunciado na noite de Domingo, 8 de novembro de 1857,
pelo Rev. C. H. Spurgeon
na Capela de New Park Street, Southwark (Inglaterra)
________
Tradução: Paulo Athayde
Todos aqueles que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está
escrito: maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão
escritas no livro da lei, para fazê-las. (Gal. 3:10).
Meu querido ouvinte. Você está convertido ou não? De sua resposta a esta questão
dependerá a forma pela qual me dirigirei a você neste dia.
Queira, eu lhe rogo, pela tua alma, esquecer por alguns momentos que você se
encontra num lugar de culto, ouvindo um ministro do Evangelho, que prega a um
auditório numeroso. Tente imaginar que você está sentado em sua casa, em sua
sala, e que eu estou ao seu lado, sua mão na minha, conversando sozinho com você;
porque é assim que eu desejo falar neste momento a cada um dos que me escutam.
Eu repito então, meu querido auditório, a questão soberanamente importante e
solene que já coloquei, e eu lhe conjuro a responder como na presença de Deus.
Você está em Cristo ou fora dele? Você procurou um refúgio junto daquele que é a
única esperança do pecador? Ou você ainda é um estrangeiro na república de
Israel, longe de Deus e fora das promessas de seu santo Evangelho?
Vejamos, meu irmão, sem hesitação ou falsas desculpas; seja sincero e que sua
consciência responda SIM ou NÃO à minha pergunta. Porque, de duas coisas, uma:
ou você está sob o peso da cólera de Deus, ou está livre dessa ira. Não há outra
alternativa. Sim, você é neste momento mesmo, herdeiro da maldição divina, ou
herdeiro do reino da graça. Qual desses dois estados é o seu? Você é que tem de
dizer. E que não haja "se" ou "talvez" em sua resposta, mas que ela seja clara, leal,
categórica. Se você tem ainda dúvida a este respeito, eu lhe suplico, não dê repouso
a sua alma até que a dúvida se dissipe. Sobretudo, não se apresse em interpretar a
dúvida em proveito próprio; antes a considere como uma forte presunção contra
você. É mais provável, creia, que você esteja no mau estado que no bom. Agora
então, ó meu irmão, ponha sua alma na balança e se um dos pratos não pesa mais
que o outro, mas os dois se mantêm perto do equilíbrio, de tal sorte que você seja
obrigado a dizer "Eu não sei qual", lembre-se que é melhor você decidir a questão
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pelo pior, ainda que isso seja terrível, do que resolver esta questão pelo bem,
correndo o risco de se deixar seduzir e continuar a viver sob uma segurança
presunçosa, até que você finalmente reconheça sua fatal ilusão no abismo do
inferno.
Pode você então, com uma mão posta na Palavra de Deus e outra em seu próprio
coração, elevar neste instante seus olhos para o céu e dizer com uma humilde
segurança: "Eu sei uma coisa, que estava cego e agora vejo; eu sei que passei da
morte para a vida; eu sou o primeiro dos pecadores, mas Jesus morreu por mim e a
menos que eu me engane da maneira mais terrível, eu sou desde agora um dos
resgatados por Cristo, um monumento da graça de Deus?" Você pode, em boa
consciência, me dar essa resposta? Se é assim, ó meu irmão, a paz de nosso Senhor
seja contigo! Que a bênção do Altíssimo repouse sobre sua alma! Não tema; as
palavras que vamos meditar não serão mais como raios para você. Leia o versículo
13 do capítulo que tirei meu texto, e aí você encontrará a confirmação gloriosa de
suas esperanças – Cristo foi feito maldição por nós, porque está escrito: maldito o
que for pendurado no madeiro.
Se então é verdade que você é um filho de Deus, convertido e regenerado, eu
repito, você não tem nada a temer, porque Cristo se fez maldição em seu lugar.
Mas tenho a convicção de que a grande maioria desta assembléia não poderia me
dar uma resposta semelhante; e você em particular, meu querido ouvinte (porque
quero continuar a me dirigir pessoalmente a você), você não ousaria, não é
verdade, falar assim, porque você é estranho à aliança da graça. Você não ousaria
mentir a Deus e à sua consciência; por causa disso você diz com uma franqueza que
lhe honra: "Eu sei que nunca fui regenerado; eu sou hoje o que tenho sido em todo
o tempo". Portanto, é com você que eu quero falar, ó homem! E eu lhe conjuro, por
Aquele que haverá de julgar os vivos e os mortos, por Aquele diante do qual eu e
você deveremos logo comparecer; eu lhe conjuro a escutar com atenção o que tenho
a lhe dizer da parte do Senhor, lhe lembrando que este apelo talvez seja o último
que lhe será dado a ouvir! E eu te conjuro também, ó minha alma, a falar com
fidelidade a estes homens mortais que te cercam, por medo que no último dia, o
sangue de suas almas não seja encontrado em roupa, e que tu mesma não sejas
reprovada!
Ó Senhor, leve-nos todos a um estado de reverência e introspecção. Queira nos dar,
neste momento, ouvidos que ouçam, uma memória que retenha e uma consciência
que seja tocada por teu Espírito, pelo amor de Jesus !
Nós dividiremos este discurso em três partes. Primeiro, NÓS JULGAREMOS O
ACUSADO; em segundo lugar, NÓS PRONUNCIAREMOS SUA SENTENÇA; e
finalmente, se ele se reconhecer culpado e se arrepender (somente nestas
condições), NÓS LHE ANUNCIAREMOS A LIBERTAÇÃO.
Primeiro, façamos o JULGAMENTO DO ACUSADO.
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Meu texto diz assim: maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas
escritas no livro da Lei para as praticar. Homem não convertido, eu lhe pergunto,
você é culpado ou não culpado? Você tem perseverado em todas as coisas que estão
escritas no livro da Lei? Na verdade, me parece quase impossível que você ouse
sustentar sua inocência; mas quero supor, por um instante, que você tenha a triste
coragem de fazê-lo. Quero supor que você diga ousadamente: "Sim, eu persevero
em todos os mandamentos da Lei." É o que nós vamos examinar, meu caro ouvinte;
e antes de tudo, permita-me lhe perguntar se você conhece esta lei que você diz
cumprir.
Eu vou lhe dar um simples resumo que chamarei exterior, mas lembre-se que ela
possui um sentido interior e espiritual infinitamente mais amplo que seu sentido
literal. Escute então o primeiro mandamento da Lei:
NÃO TERÁS OUTRO DEUS DIANTE DE MIM.
O quê? Você jamais amou outra coisa além de seu Criador? Você sempre lhe deu o
primeiro lugar em suas afeições? Você não tem feito um Deus de seu ventre, ou de
seu comércio, ou de sua família, ou de sua própria pessoa? Oh! Você certamente
não ousará negar que este primeiro mandamento lhe condena! E o segundo, você o
tem obedecido melhor?
NÃO FARÁS PARA TI IMAGEM DE ESCULTURA, NEM ALGUMA SEMELHANÇA
DO QUE HÁ EM CIMA NOS CÉUS, OU EM BAIXO NA TERRA, NEM NAS ÁGUAS
DEBAIXO DA TERRA.
O quê! Você jamais se curvou diante da criatura?
Jamais colocou qualquer objeto terrestre no lugar de Deus? De minha parte, eu
lhes declaro para minha vergonha, que tive ídolos em minha vida; e se sua
consciência fala com sinceridade, estou certo que ela lhe dirá também: "Ó homem!
Você tem sido um adorador de Mammon, um adorador de seus sentidos; você tem
se prostrado diante de seu dinheiro e seu ouro; você tem se inclinado lhes dando
honra e dignidade; você tem feito um Deus de sua intemperança, um Deus de suas
cobiças, um Deus de sua impureza, um Deus de seus prazeres!
E o terceiro mandamento.
NÃO TOMARÁS O NOME DO SENHOR TEU DEUS EM VÃO.
Você ousaria sustentar que não o tem violado? Você jamais proferiu juramentos
grosseiros, ou palavras blasfemas; não empregou ao menos irreverentemente o
nome de Deus, em suas conversas comuns? Diga-me: você tem sempre santificado
este nome, três vezes santo? Você nunca o pronunciou sem necessidade? Você
nunca leu o livro de Deus distraidamente e com pressa? Você nunca escutou a
pregação do Evangelho, sem respeito e recolhimento? Oh! Certamente, aqui
também, você tem que se confessar culpado.
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E quanto ao quarto mandamento, que trata da observação do sábado.
LEMBRA-TE DO DIA DE DESCANSO PARA O SANTIFICAR.
Há alguém bastante atrevido para dizer que nunca o transgrediu? Oh! Homem,
ponha então sua mão na boca e reconheça que estes quatro mandamentos
bastariam para lhe convencer do pecado e para despejar sobre você a justa cólera
de Deus !
Mas continuemos nosso exame.
HONRA A TEU PAI E A TUA MÃE.
O quê! Você pretende não ser culpado neste ponto? Em sua juventude, você nunca
os desobedeceu? Você nunca se rebelou contra o amor de sua mãe, nem desprezou
a autoridade de seu pai? Folheie as páginas de seu passado. Veja se em sua
infância, ou mesmo em sua idade madura, você sempre falou com seus pais como
deveria fazer; veja se você sempre os tratou com a honra que eles têm direito e que
Deus lhe ordenou lhes dar.
NÃO MATARÁS.
É possível, meu caro ouvinte, que você não tenha violado a letra deste
mandamento; é possível que você não tenha tirado a vida a um de seus
semelhantes; mas você nunca se deixou dominar pela cólera? Ora, a Palavra de
Deus declara expressamente que aquele que se encoleriza contra seu irmão, é um
assassino (I Jo 3:15). Julgue, depois disso, se você é ou não culpado.
NÃO COMETERÁS ADULTÉRIO.
Talvez você tenha cometido coisas abomináveis, e esteja mergulhado hoje mesmo,
nas mais vergonhosas luxúrias; mas, admitindo que você tenha sempre vivido na
castidade mais perfeita, você pode dizer, ó meu irmão, que você não tem nada a lhe
reprovar neste mandamento, quando você se coloca na presença destas solenes
palavras do Mestre: qualquer que olhe uma mulher para a cobiçar, já cometeu
adultério com ela em seu coração (Mt 5:28). Nenhum pensamento lascivo
atravessou seu espírito? Nenhum desejo impuro manchou sua imaginação? Oh!
Certamente, se sua fronte não é dura como o bronze, se sua consciência não estiver
inteiramente cauterizada, sua resposta a estas questões não deixaria dúvidas.
NÃO FURTARÁS.
Você jamais roubou alguém? Talvez, nesta manhã mesma, você tenha cometido um
furto, e se encontra aqui, em meio ao povo, ainda com o produto do seu latrocínio;
mas ainda que você seja de uma probidade exemplar, entretanto, não houve
momentos em sua vida, em que você provou um secreto desejo de enganar seu
próximo? Eu vou mais longe – você nunca cometeu, às escuras e em silêncio,
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algumas daquelas fraudes, que mesmo não sendo contrárias às leis de seu país, não
deixam de ser infrações manifestas da santa Lei de Deus?
E quem de nós seria tão audacioso em afirmar que tem obedecido perfeitamente ao
nono mandamento?
NÃO DIRÁS FALSO TESTEMUNHO CONTRA TEU PRÓXIMO
Nunca demos ocasião à calúnia? Nós não temos, freqüentemente, interpretado mal
as intenções de nossos semelhantes?
E o último mandamento.
NÃO COBIÇARÁS.
Onde está o homem que não tenha pisado este mandamento com os pés? Quantas
vezes não temos desejado mais do que Deus nos tem dado? Quantas vezes nossos
corações carnais não têm suspirado pelos bens que o Senhor em sua sabedoria
julgou melhor nos recusar? Ah! meus amigos; sustentar nossa inocência diante da
Lei de Deus, não seria isso, lhes pergunto, um ato de verdadeira loucura? E não
lhes parece que a simples leitura desta Lei santa deveria bastar para extrair de nós,
cheios de humilhação e penitência, esta frase: “Nós somos culpados, Senhor, somos
culpados em todos os pontos?”
Mas ouço alguém me dizer: “Não, não quero me reconhecer culpado. Certamente,
não teria a pretensão de perseverar em todas as coisas que estão escritas no livro da
Lei, mas ao menos, fiz o que pude. Isto é falso, ó homem! Você se engana e mente
diante da face de Deus! Não, você não fez tudo que é possível para perseverar no
bem. Em milhares situações de sua vida, você deveria ter agido melhor do que agiu.
O quê! Este homem ousaria afirmar que fez o possível para agradar a Deus, quando
o vejo assentado no banco dos escarnecedores, e insultar seu Criador até em seu
santuário? O quê! Todos que estamos aqui, não teríamos podido, se tivéssemos
querido, resistir àquela tentação, evitar aquela queda cuja lembrança nos condena?
Se nós não fôssemos livres para escapar do mal, sem dúvida seríamos desculpados
ao cair; mas quem de nós não é forçado a reconhecer que houve em sua vida
momentos solenes, nos quais chamado a escolher entre o bem e o mal,
resolutamente escolheu o mal e virou as costas ao bem, andando assim, sabendo e
querendo, no caminho que conduz ao inferno?”
“Ah! Exclama um outro, é verdade que infrinjo a Lei de Deus, mas não sou pior do
que aqueles que me cercam”. Pobre argumento é este, meu caro ouvinte, ou
melhor, de fato nem pode ser chamado assim. Você não é, assim creio, pior que o
resto dos homens, mas lhe rogo, em que isto lhe é vantagem ? Será uma coisa
menos terrível ser condenado em companhia, ainda que seja, de um único perdido?
Quando, no último dia, Deus disser aos ímpios: Vão, malditos, para o fogo eterno!
Você crê que esta terrível sentença lhe será mais doce, porque ela será dirigida aos
milhares, tanto quanto a você?
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Se o Senhor precipitasse uma nação inteira no inferno, cada indivíduo sentiria tão
vivamente o peso desse castigo, como se fosse o único a carregá-lo. Deus não é
como os juízes da terra: se os tribunais fossem entulhados de acusados, talvez
fossem tentados a passar levemente por sobre mais de um processo; mas o
Altíssimo não agirá assim. Infinito em todas as suas faculdades, o grande número
de criminosos não será obstáculo para Deus. Ele se mostrará tão justo e inflexível
com você, como se não existisse outro pecador como você. Além disso, que você
tem, eu rogo, com os pecados de outrem? Você não é responsável, porque cada um
levará seu próprio peso. Deus lhe julgará segundo suas obras e não segundo as dos
outros. As faltas da mulher de vida má, podem ser mais grosseiras que as suas, mas
não se lhe pedirá conta de suas iniqüidades. O crime do assassino pode revelar
muito aos meus olhos sobre suas próprias transgressões, mas você não será
condenado por ele. Fixe bem em seu espírito, ó homem, que a religião é um negócio
entre Deus e você, por isso, lhe conjuro, olhe seu próprio coração e não o de seu
próximo.
Mas ouço outro de meus ouvintes falando assim: “Quanto a mim, tenho me
esforçado muito em guardar os mandamentos de Deus e, em certos períodos de
minha vida, creio que tenho conseguido: isso não é suficiente para me pôr ao
abrigo da maldição?” Para responder, meu irmão, permita-me outra vez ler a
sentença contida em meu texto: “Maldito todo aquele que não permanecer em
todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.” Ah! Você não se
convence que o Senhor jamais confunde as cores agitadas de uma irresolução
mórbida com a santidade e obediência? Não será uma observação passageira e
intermitente destes mandamentos que ele aceitará no dia do juízo; não, é preciso
perseverar em fazer sua vontade. Se então, desde minha mais tenra infância, até a
hora em que meus cabelos brancos descerem ao sepulcro, minha vida não for um
incessante cumprimento da Lei de Deus, eu serei condenado! Se desde o instante
em que minha inteligência recebe seus primeiros raios de luz, eu me torno um ser
responsável, até o dia em que, como uma espiga madura, eu sou recolhido nos
celeiros eternos, eu não observei em sua inteireza todas as ordenanças de meu
Mestre, a salvação pelas obras é impossível para mim, e estarei infalivelmente
perdido!
Então, não espere, ó homem, que uma obediência vacilante e sem conseqüência
salvará sua alma. Você não perseverou em todas as coisas que estão escritas no
livro da Lei. Por conseqüência, você está condenado.
Mas outro objeta – “se há vários pontos da Lei que transgredi, não quer dizer que
eu seja menos virtuoso”. Eu concordo, meu irmão. Quero supor que de fato você
tem sido um modelo de virtude; eu quero supor que você é puro de muitos vícios.
Mas releia meu texto (e lembre-se que não é minha palavra, mas a palavra de Deus
que você vai ler). “Maldito todo aquele que não perseverar em todas as coisas que
estão escritas no livro da Lei.” Note que não está dito para perseverar em algumas
coisas, mas em todas as coisas.
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Ora, eu lhe pergunto, você tem praticado todas as virtudes? Você tem evitado todos
os vícios? Você diz, talvez, para sua defesa: “Eu não sou um intemperante.” Que
seja. Mas você não será menos condenado, se você tem sido um fornicário. “Eu
jamais cometi impureza”, você grita. Que seja ainda. Mas se você tem profanado o
sábado, você tem incorrido em maldição. Você me responde que também nisto você
não pode ser reprovado? Eu replico que se você tem tomado o nome de Deus em
vão, esta única transgressão basta para lhe condenar. Sobre um ponto ou outro, a
Lei de Deus lhe atingirá indubitavelmente. Mas há mais – não somente afirmo (e
estou certo que sua consciência confirma também) que você não tem perseverado
em todas as coisas que estão escritas na Lei, mas ainda sustento que você não tem
perseverado em guardar em sua inteireza um único dos mandamentos de Deus. O
mandamento é de uma grande amplitude, disse o salmista (Sl 109:96), e nenhum
homem sobre a terra conseguiu sondar sua profundidade. Não é apenas o ato
exterior que nos deixa passíveis da condenação eterna, mas o pensamento, a
imaginação, a concepção do pecado, bastam para fazer perder a alma. E lembremse,
meus caros amigos, que esta doutrina, que pode, eu concordo, lhes parecer
dura, não é minha – ela é de Deus.
Se vocês nunca tivessem transgredido a Lei divina, mas se seus corações têm
concebido maus pensamentos ou nutrido maus desejos, vocês merecem o inferno.
Se vocês tivessem vivido desde seu nascimento até hoje, em um lugar inacessível,
longe de qualquer ser humano, e lhes tivesse sido impossível de fisicamente
cometer seja um ato impuro, seja um assassinato, ou uma injustiça, as imaginações
de seus corações depravados, só elas bastariam para lhes banir para sempre da
presença de Deus. Não! Não há uma alma nesta grande assembléia que possa
esperar escapar da condenação da Lei! Todos, desde o primeiro até o último,
devemos nos curvar diante de Deus, e gritar em uma única voz – “Nós somos
culpados, Senhor, nós somos culpados!” Quando eu te contemplo, ó Lei, minha
carne treme, meu espírito fica perdido!
Quando ouço roncar seu trovão, meu coração se derrete como cera dentro de mim!
Como posso suportar tua presença? Como poderei aplacar tua justiça? Certamente,
se no último dia eu tivesse de comparecer a teu tribunal, não saberia escapar da
condenação, porque minha consciência será minha acusadora!
Mas creio que é supérfluo insistir muito neste ponto. Oh! Você que está fora de
Cristo e sem Deus no mundo, não se convenceu ainda que você está sob o golpe da
cólera divina? Para trás de nós, loucas ilusões! Caí, máscaras da mentira! Lancemos
ao vento nossas vãs desculpas e reconheçamos que ao menos que nós sejamos
cobertos pelo sangue e da justiça de Cristo, a maldição contida em meu texto, fecha
a cada um de nós, individualmente, a porta dos céus e não nos deixa nada mais a
esperar além das chamas da perdição.
II
O acusado é, então, julgado e reconhecido culpado. Agora SUA SENTENÇA TERÁ
DE SER PRONUNCIADA. Em geral, os ministros de Deus amam pouco esta tarefa.
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De minha parte, lhes confesso, preferiria pregar vinte sermões sobre o amor de
Cristo, do que um único como este.
De resto, me é raro escolher assunto como este, visto que não me parece necessário
tratá-lo freqüentemente; entretanto, se nunca o tratasse, se deixasse sempre as
ameaças divinas relegadas a segundo plano, sinto que meu Mestre não poderia
abençoar a pregação de seu Evangelho, porque Ele quer que a Lei e a graça sejam
anunciadas na mesma medida e que cada uma conserve o lugar que lhe é próprio.
Ouçam então, meus irmãos, enquanto que, com dor na alma eu pronunciarei a
sentença levantada contra todos aqueles dentre vocês que não pertencem a Cristo –
Pecador não convertido! Você é maldito! Maldito neste momento mesmo! Você é
maldito não por causa de um auto-denominado mágico qualquer, cujo pretenso
sortilégio só pode despertar medo aos ignorantes; não por algum monarca terrestre
que poderia no máximo fazer perecer seu corpo e devastar seus bens; mas maldito
pelo seu Criador ! Maldito pelo Monarca dos céus! Maldito! Oh! Que palavra é esta!
Que coisa terrível é a maldição de qualquer parte que ela venha! E a maldição de
um pai, como ela deve ser a mais terrível entre todas! Temos visto pais que, levados
ao desespero pela conduta de um filho rebelde e depravado, têm levantado suas
mãos aos céus, pronunciando sobre o filho a mais terrível das maldições. A Deus
não agrada que eu aprove esse ato! Reconheço, ao contrário, que é tanto temerário
quanto insensato. Mas, qualquer que seja a reprovação com que se possa
considerar o ato em si, não resta menos verdadeiro que a maldição de um pai
imprime sobre aquele que a mereceu, uma vergonhosa, indelével destruição. Oh!
Eu sofro só em pensar o que minha alma provaria se tivesse sido amaldiçoada por
aquele que me gerou! Certamente, meu céu estaria coberto por trevas; o sol não
brilharia mais em minha vida. Mas ser maldito de Deus!...
Oh! Pecadores, as palavras me faltam para lhes falar o que é esta maldição!...
Mas eu lhes ouço me responder: “Se é verdade que nós temos incorrido na
maldição divina, ao menos não sentiremos seus efeitos durante esta vida; isso é
algo que espera um futuro ainda bem distante, por isso pouco nos inquieta.” Você
se engana, ó alma, você se engana! Desde agora a cólera de Deus permanece sobre
você. Você não conhece ainda, é verdade, a plenitude da maldição, mas por isso
agora mesmo você não é menos maldito. Você ainda não está no inferno; o Senhor
não lhe cerrou definitivamente as entranhas de suas misericórdias e não lhe
rejeitou ainda para sempre; mas você está debaixo do golpe da Lei. Abra o Livro de
Deuteronômio. Leia as ameaças dirigidas ao pecador, e veja se a maldição de Deus
não é ali colocada como algo imediato, atual, presente. (Deut. 28:15-16). Está
escrito que você será maldito na cidade, isto é, no lugar de sua habitação, de seu
trabalho, de seus negócios; você será maldito nos campos, isto é, nos lugares onde
você vai procurar o descanso, repouso, o prazer; seu cesto será maldito e também
sua amassadeira; o fruto de seu ventre será maldito e o fruto de sua terra; as crias
de suas vacas e as ovelhas de seu rebanho; será em sua entrada e em sua saída! Há
homens sobre os quais a maldição divina parece pesar de uma maneira visível.
Tudo o que eles fazem é amaldiçoado. Se eles adquirem riquezas, a maldição se
agarra a elas; se eles constroem casas, a maldição cai sobre suas casas. Veja o
avarento: ele é amaldiçoado em seus tesouros, porque sua alma está tão corroída
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pela ganância e cobiça, que ele não pode desfrutar de seus tesouros mesmos. Veja o
intemperante: seu cesto e sua amassadeira são literalmente malditas, porque seu
palácio, regado de bebidas embriagadoras, não pode mais usufruir de nenhum
alimento. Ele é também maldito em sua entrada e saída, porque desde quando ele
atravessa a soleira de sua própria casa, suas crianças correm para se esconder, tal o
medo que ele lhes inspira. E será maldito um dia, no fruto do seu ventre, porque
quando seus filhos avançarem na idade, eles seguirão certamente o exemplo de seu
pai; eles se darão aos mesmos excessos de seu pai; eles jurarão como ele jurou; eles
se aviltarão como ele se aviltou. Hoje, o infeliz procura talvez se convencer que
pode, sem grande inconveniente, se embebedar e blasfemar quanto bom lhe
pareça; mas que dor aguda atravessará sua consciência (se ainda lhe resta alguma
consciência ...), quando vir seus filhos andarem sobre suas vergonhosas pegadas !
Sim, repito, a maldição divina acompanha de uma maneira visível certos vícios;
mas ainda que ela não seja sempre igualmente aparente, na realidade ela não pesa
menos sobre qualquer que seja a transgressão da Lei. Você, então, pecador, que
vive sem Deus, sem Cristo, estranho à graça de Jesus, saiba, você é maldito –
maldito quando se assenta, maldito quando se levanta ! Maldito é o leito onde você
deita; maldito o pão que você come; maldito o ar que você respira! Para você tudo
está amaldiçoado. O que quer que você faça, ou aonde você vá, você é maldito!...
Oh! Pensamento terrível! Neste momento mesmo, eu não posso duvidar; eu tenho
diante de mim um grande número de criaturas imortais que são malditas de Deus!
Infelizmente! Por que é preciso que um homem fale assim a seus irmãos? Mas
ainda que este dever seja penoso, como ministro de Cristo, eu tenho de cumpri-lo,
sem o que eu seria infiel em relação às suas almas que perecem. Ah! Queira Deus
que haja nesta assembléia alguma pobre alma que, cheia de pavor, grite: “É
verdade então? Eu sou maldito? Maldito de Deus e de seus santos anjos, maldito
sobre a terra e no céu - maldito ! maldito ! Sempre maldito !” Oh ! Eu estou
convencido que se não quisermos levar a sério esta única palavra –Maldito – não
precisará muito para dar o golpe de morte à nossa indiferença e torpor espirituais!
Mas, tenho mais que isto a lhe dizer, meu querido ouvinte. Se você é impenitente e
incrédulo, devo lhe advertir que a maldição que hoje está sobre você, não pode em
nada ser comparada com aquela que cairá sobre você depois. Você sabe que em
poucos anos nós devemos morrer. Sim, jovem, logo você e eu envelheceremos; ou
talvez bem antes de alcançarmos a velhice, nos estenderemos sobre nosso leito,
para nunca mais nos levantarmos. Nós acordaremos de nosso último sono, e
ouviremos murmurar ao nosso redor que nossa última hora vai soar. O médico
consultará uma última vez nosso pulso, depois dirá à nossa família amargurada que
não há mais esperança! E nós estaremos lá, deitados, imóveis e sem força. E nada
virá romper o silêncio lúgubre do quarto mortuário; apenas o barulho monótono do
relógio ou o choro de nossa mulher e nossos filhos. E teremos que morrer!... Oh!
Que hora solene será quando formos pegos pelo grande inimigo do gênero
humano: a morte!
Já o gemido despedaça nosso peito; é muito se pudermos articular uma única
palavra; nossos olhos se embaçam; a morte pôs seu dedo frio sobre o calor de nosso
corpo e o atingiu para sempre; nossas mãos recusam levantar-se; estamos à beira
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do sepulcro! Momento decisivo, momento solene entre todos os momentos da vida,
é aquele onde a alma entrevê seu destino; onde, como através das fendas de sua
prisão de barro, ela descobre o mundo por vir! Oh! Que língua humana poderia
exprimir o que passará no coração do não convertido, quando ele estiver diante do
tribunal de Deus, e ouvir o estrondo dos raios de sua cólera eterna em suas orelhas
e sentir que entre o inferno e ele, não há mais que um intervalo de um momento!
Quem poderia descrever o terror inexprimível que tomará os pecadores, quando se
encontrarem na presença das realidades, sobre a existência das quais não tinham
querido crer? Ah! Desprezadores que me escutem! Hoje vocês podem rir à vontade
das coisas de Deus. Vocês podem, saindo deste recinto, zombar do que acabaram
de ouvir, tornar ridículo o pregador e folgar às suas custas. Mas esperem até
quando estiverem sobre o seu leito de morte e vocês não rirão mais, eu lhes
garanto! Agora que a cortina está cerrada, que o futuro está escondido de seus
olhos, lhes é fácil zombar do que virá; mas quando o Senhor levantar a cortina, e os
horizontes eternos se desenrolarem diante de seus olhos, vocês não terão mais
coragem de rir. O rei Acabe, assentado em seu trono, rodeado de cortesãos, riu do
profeta Miquéias; mas não consta que ele tenha rido do profeta, quando uma flecha
inimiga, penetrando por uma emenda de sua couraça, o feriu mortalmente (I Re
22). Os contemporâneos de Noé riram do venerável ancião que lhes anunciava que
o Eterno haveria de destruir o mundo por um dilúvio: sem nenhuma dúvida eles o
tinham por um sonhador, visionário, um insensato. Mas em que lhes tornou o seu
desdém e sarcasmos, ó céticos, quando Deus fez descer do céu imensas cataratas,
quando as fontes do grande abismo foram abertas e o mundo foi inteiramente
submerso? Então reconheceram, mas tarde demais, que Noé havia dito a verdade.
E vocês mesmos, pecadores que se encontram neste auditório, quando vocês
estiverem no ponto de serem lançados na eternidade, não creio que rirão ainda de
mim e da palavra que lhes anuncio. Antes dirão a si mesmos: “Eu me lembro
daquela época, quando um dia entrei por curiosidade naquele lugar de culto; eu
ouvi um homem que falava de uma maneira forte e solene; naquele momento não
gostei muito; entretanto não poderia negar o pensamento de que ele me dizia a
verdade e que queria o meu bem. Oh! Como não escutei seus apelos! Como não
aproveitei seus avisos! O que não daria para poder ouvi-lo de novo!”
Há pouco tempo um caso bem parecido veio ao meu conhecimento. Um homem
que muitas vezes me havia coberto de zombarias e injúrias, tendo partido num
domingo para uma viagem de passeio, voltou para sua casa apenas a tempo de
morrer. Na manhã da segunda-feira, sentindo seu fim aproximar-se, o que você
pensa que ele fez? Mandou chamar com pressa o servo de Deus que lhes fala neste
momento, aquele mesmo que ele havia insultado tantas vezes! Ele queria que ele
lhe indicasse o caminho para o céu, que lhe falasse do Salvador. Eu fui
apressadamente e com alegria. Mas infelizmente! Como é triste a tarefa de falar a
um profanador do sábado, a um contendor do Evangelho, a um homem que passou
sua vida a serviço de Satanás e que chega na sua última hora ! E de fato, o infeliz
morreu logo. Ele morreu sem a Bíblia em sua casa, sem oração pedindo a Deus por
sua alma, a não ser aquela que eu pronunciava na cabeceira de seu leito... Oh! Meus
caros amigos, creiam: é uma coisa terrível morrer sem Salvador! Certa vez, após ter
assistido os últimos momentos de um pobre pecador que tocava a salvação de uma
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forma pela qual eu teria pouca esperança, voltei para casa com a alma quebrada, o
coração entristecido, pensando comigo mesmo : “Meu Deus! Que eu possa pregar
as insondáveis riquezas de Cristo a cada hora, a cada instante do dia, a fim de que
as almas possam olhar para Cristo antes de que lhes seja tarde demais!” Depois, eu
pensei no pouco zelo, pouco amor, pouco fervor com o qual tantas vezes anunciei as
misericórdias de meu Mestre, e chorei – sim, eu chorei amargamente, sentindo que
não pressionei as almas como deveria fazer, ou seja, com insistência e lágrimas,
para fugirem da cólera que há de vir.
A CÓLERA QUE HÁ DE VIR! A CÓLERA QUE HÁ DE VIR! Oh! meus queridos
ouvintes, firmem bem em seus espíritos, eu lhes peço, que esta não é uma palavra
vã. As coisas sobre as quais lhes falo não são nem sonho, nem fábulas de velhas.
São verdades, e vocês as conhecerão logo, cada um por sua própria conta. Sim,
pecador, você que não tem perseverado em todas as coisas que estão escritas no
livro da Lei, e que não procurou refúgio junto a Cristo, o dia se aproxima quando as
coisas invisíveis se tornarão para você realidades vivas terríveis. E então, oh !
então, o que você fará ? Após a morte, segue o julgamento.
Um dia Jesus, do trono de sua Glória, virá julgar os vivos e os mortos.
Tente imaginar aquele grande e glorioso dia do Senhor. O relógio do tempo soou
sua última hora. As almas dos reprovados vão ouvir sua sentença definitiva. Seu
corpo, ó pecador, é lançado fora do sepulcro; você desenrola a mortalha e olha ...
Mas que barulho terrível é esse? Um barulho formidável que abala as colunas da
terra e faz cambalear até o céu? É a trombeta do arcanjo, a trombeta do arcanjo que
ressoa até às extremidades da terra, chamando todos os homens para o
julgamento! Você ouve e treme. De repente uma voz se faz ouvir, voz que é saudada
por uns com gritos de desespero, por outros com cantos de alegria. “Eis que ele
virá, ele virá, e todo o olho o verá!” E o trono, branco como alabastro, aparece sobre
uma nuvem do céu; e sobre o trono, assentado alguém envolto em majestade. É
Ele! É o Homem que morreu no Calvário! Eu vejo suas mãos perfuradas, mas que
mudança em sua aparência! Nada de coroa de espinhos. Ele compareceu ao
tribunal de Pilatos. Agora o mundo inteiro comparece ao seu. Mas ouçam! A
trombeta soou de novo. O Juiz abre o Livro. Faz-se silêncio em todo o céu!
A terra está totalmente em silêncio. “Reúnam meus eleitos dos quatro ventos,
meus resgatados das extremidades do mundo.” Também os anjos obedecem.
Como um relâmpago, suas asas separam a multidão. Aqui, estão os justos,
reunidos à direita de seu Mestre; e você, pecador, você é deixado à esquerda.
Você é deixado para suportar o ardor devorador da cólera eterna. As harpas
celestes fazem ouvir doces melodias, mas elas não são doces para você. Os anjos
repetem em coro: “Venham, vocês, benditos do Pai, e possuam por herança o
reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo”; mas esta inefável
saudação não lhe diz respeito. E agora, sobre a face do Senhor se acumulam
nuvens de indignação; relâmpago cobre seu rosto; raios jorram de seus olhos.
Ele olha para você que o desprezou; você que brincou com sua graça, que riu de
sua misericórdia, que profanou o dia de seu repouso, que zombou de sua cruz,
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que não quis que ele reinasse sobre sua alma! Ele olha para você, e com uma voz
mais tremenda que dez mil trovões, ele grita: “Aparte-se de mim, maldito!” E
depois ... Não! ... Eu não quero lhe seguir mais longe! Não quero falar nem do
verme que nunca morre, nem do fogo que jamais se extingue; não quero
descrever nem os sofrimentos do corpo, nem as torturas da alma. Que me baste
lhes dizer, pecadores não convertidos, que o inferno é terrível, que a sorte dos
reprovados é pavorosa... Oh! Então fujam, fujam da cólera por vir! Fujam dela
sem demora; fujam dela já, pelo medo que sendo surpreendidos pela morte,
vocês não se vejam transportados, de um golpe, para o meio dos horrores
indizíveis da perdição eterna! Maldito todo aquele que não permanece em todas
as coisas escritas no livro da Lei, para praticá-las.
III
Mas, Deus seja louvado, nós temos agora uma tarefa mais doce a cumprir. Nós
viemos, no nome de nosso Mestre, ANUNCIAR A LIBERTAÇÃO a todo pecador
que se arrepende.
Você me diz: “Pregador do Evangelho, você nos condenou a todos”. Isto é
verdade, meus queridos ouvintes. Entretanto, não sou eu, mas Deus é quem
condena. Eu posso dizer diante dos céus: eu lhes amo a todos, individualmente,
como um irmão ama seus irmãos. Se lhes falo com severidade, é unicamente
para o seu bem. Meu coração, minha alma, estão cheios de compaixão por vocês;
e em minhas palavras, aquelas aparentemente mais duras, há na realidade mais
amor que nos discursos agradáveis daqueles que lhes dizem Paz, Paz! Quando
não há paz. Oh! Não creiam que tenho prazer em pregar como fiz hoje. Não,
Deus me é testemunha! Eu prefiro mil vezes lhes alimentar de Jesus, de sua doce
e gloriosa pessoa, de sua graça e de sua justiça perfeita; também, tenho em meu
coração, antes de terminar, de lhes fazer ouvir palavras de paz. Então se
aproxime meu irmão; dê-me sua mão e escute a mensagem da graça que lhe
trago. Você se sente culpado, condenado, maldito? Você diz neste mesmo
instante: “Oh, Deus! Eu reconheço que o senhor será justo em fazer cair sobre
mim todo o peso de sua maldição?” Você compreende que longe de poder ser
salvo por causa de suas obras, você está inteiramente perdido por causa de seus
pecados? E você tem um ódio profundo pelo mal? Você se arrepende
sinceramente? Se é assim, cara alma, deixe-me lhe dizer onde você encontrará a
libertação. Homens irmãos! Saibam todos isto. Jesus Cristo, descendente de
Davi, foi crucificado, morto e enterrado. Agora, ele está ressuscitado, e assentado
à direita de Deus de onde intercede por nós. Ele veio ao mundo para salvar os
pecadores pela sua morte. Vendo que os pobres filhos de Adão estavam sujeitos
à maldição, ele mesmo se encarregou dessa maldição e assim lhes libertou. Se,
então, Deus amaldiçoou Cristo no lugar deste ou daquele homem, é impossível
que ele amaldiçoe esse homem de novo. “Mas Cristo foi amaldiçoado por mim?”
– alguém me pergunta. A isto lhe respondo: Deus o Santo Espírito lhe fez ver seu
pecado ? Ele lhe tem feito sentir toda a amargura? Ele lhe ensinou a dar este
grito de humilhação: Oh, Deus! Tem misericórdia de mim que sou pecador? Se,
na sinceridade de seu coração, você pode responder afirmativamente a estas
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questões, tenha bom ânimo, meu muito amado; Cristo foi feito maldição em seu
lugar; e se Cristo foi feito maldito em seu lugar, você não está mais sujeito à
maldição. “Mas eu queria ter certeza - talvez você insista; gostaria de não poder
duvidar que Jesus foi realmente feito maldição por mim.” E por que você
duvidaria, meu irmão? Você não vê Jesus expirando sobre a cruz? Não vê suas
mãos e seus pés ensangüentados? Olhe para Ele, pobre pecador. Não olhe mais
para si nem para suas iniqüidades; olhe para Ele e seja salvo. Tudo o que ele
exige de você, é que você olhe para Ele e por isso mesmo Ele lhe dará a sua
segurança. Venha a Ele, confie e creia. Oh! Eu lhe suplico, aceite com
simplicidade e fé esta declaração da Escritura: é uma coisa certa e digna de ser
recebida com inteira confiança, que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar o
pecador.
O quê? Alguém ainda objeta. “Devo crer então, que Jesus morreu por mim,
simplesmente porque eu me sinto pecador?” Justamente, meu irmão. “Mas no
entanto, me parece que, se eu possuísse alguma justiça, se pudesse fazer belas
orações ou boas obras, seria mais direito concluir que Cristo morreu por mim.”
Você se engana, meu irmão, você se engana. A fé que então você teria, não seria
mais a fé; isso seria justiça própria e nada mais. Uma alma crê em Jesus, quando
o pecado lhe parecendo em todo seu negror, ela se lança simplesmente nos seus
braços, e se dá a Ele para a purificar de todas as suas manchas. Então vá, pobre
pecador, como você está, com sua indignidade e miséria; tome em suas mãos as
promessas de Deus, e, ao entrar em sua casa, procure a solidão de seu quarto.
Lá, ajoelhe-se junto ao seu leito, derrame sua alma diante de Deus. Diga a este
Deus que é rico em compaixão e abundante em misericórdia: “Oh, Senhor! Eu
sei que tudo o que acabo de ouvir é verdade. Sim, eu sou maldito e maldito
justamente! Eu sou um pecador que merece a condenação eterna. E tu sabes, ó
Senhor, estas confissões tomam agora em minha boca um sentido
completamente diferente. Ao reconhecer que sou pecador, quero dizer que sou
um verdadeiro pecador. Eu quero dizer que se tu me condenares, eu não teria
nada a dizer, que se tu me separar para sempre de tua presença, eu teria apenas
o que me é devido. Oh, meu Deus ! Teu sustento para comigo me maravilha e me
confunde. Como tu pudeste sofrer por um ser tão vil como eu, que enlameou
tanto tempo a terra ? Senhor, eu zombei de tua graça e desdenhei teu Evangelho.
Eu desprezei as instruções de minha mãe e esqueci das orações de meu pai.
Senhor, eu vivi longe de ti, violei teus sábados, profanei teu santo nome. Eu fiz
tudo que é mal, tudo o que é desagradável aos teus olhos; e se tu me
precipitasses no inferno, eu seria reduzido ao silêncio. Sim, meu Deus, eu sou
um pecador. Um pecador perdido sem socorro, a menos que tu me salves; um
pecador sem nenhuma esperança de salvação, a menos que tu me libertes ! Mas,
graças te dou, ó Senhor, tu sabes que também eu sou um pecador arrependido,
acusado em sua consciência, afligido por causa de suas transgressões. E assim,
venho nesta noite te lembrar o que tu disseste em tua Palavra: Eu não lançarei
fora, aquele que vier a mim; e mais : é uma coisa certa e digna de ser recebida
com inteira confiança, que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores.
Senhor, eu venho a ti! Senhor, eu sou um pecador! Jesus veio então para me
salvar; Senhor, eu creio! Eu me confio ao meu Senhor para a vida e para a morte!
Eu não tenho esperança, a não ser nele e odeio até o pensamento que diz que eu
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possa encontrar salvação além de tua graça. Salve-me então, Senhor; e ainda que
eu bem saiba que pela minha conduta futura, eu não poderia jamais conseguir
apagar um único de meus pecados passados, quero entretanto te suplicar, ó meu
Deus, que me dês um coração novo e um espírito reto, a fim de que a partir de
hoje e para sempre, eu possa correr no caminho dos teus mandamentos; porque
não tenho desejo maior, que ser santo como tu és santo e de andar diante de ti
como teu filho. Tu sabes, ó Senhor, para ser amado por ti, eu renunciarei
voluntariamente a tudo o que possuo, e ouso esperar que tu me ames, porque
meu coração começa a sentir os abraços do teu amor. Eu sou culpado, mas
nunca teria conhecido minha culpa se tu não a tivesses feito conhecê-la. Eu sou
vil, mas jamais saberia que sou vil, se tu não me tivesses revelado. Oh!
Certamente, meu Deus, tu não me destruirás, após ter começado em mim tua
boa obra.
Diante de ti, eu me envergonho e permaneço confuso!
Mas, Senhor, tua bondade tira minha miséria;
Tu não tens, entre ela e tua cólera,
Posto o amor, a cruz e o sangue de Jesus?
Sim, ore assim, meu mui amado; ou, se você não puder orar tão longamente,
diga estas simples palavras do fundo do coração: “Senhor Jesus, eu não sou
nada! Sejas tu mesmo o meu tudo!”
Oh! Deus permita que haja nesta assembléia algumas almas que, neste mesmo
instante, façam subir este grito em direção ao seu trono! E se assim for, saltem de
alegria, ó céus! Cantem, ó serafins! Rejubilem-se, ó resgatados! Porque está aqui a
obra do Eterno. Que toda a glória seja dada a seu nome! Amém.



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