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sábado, 14 de janeiro de 2012

Desceu Cristo ao inferno?




Desceu Cristo
ao inferno?

Pr. Mário de Jesus Arruda







O texto de 1Pedro 3: 18-20 tem sido motivo de muitos 

debates entre teólogos e cristãos. Mas, será que Cristo

 desceu a um mundo inferior entre a sua morte 

e ressurreição? É o que vamos analisar.




As várias interpretações

1) Interpretação arminiana defende que os contemporâneos de Noé não tiveram nenhum redentor e nenhum guia. Portanto, Deus teve de lhes suprir esta deficiência e, assim, por fim, o Senhor ressuscitado lhes trouxe a salvação. Para eles, a rejeição do Evangelho no passado não foi uma rejeição final e definitiva.
Mas, será que a morte não coloca um fim no período em que Deus opera com Sua graça para salvar pecadores? Será que existe neste texto de Pedro o ensino de uma nova oportunidade para os ímpios se salvarem, mesmo depois de sua morte? A grande dificuldade é que os santos do Antigo Testamento já haviam crido no Messias e, por isso, estavam justificados, Rm 4: 3; Gl 3: 6-9.

2) Interpretação luterana diz que Cristo morreu e, antes de ser ressuscitado, teve seu espírito restituído ao corpo e, na totalidade de sua natureza humana, foi ao inferno e proclamou sua vitória a Satanás. Mas, essa interpretação traz dificuldade porque não havia tido ainda nenhuma manifestação de vitória de Cristo.

3) Interpretação anglicana ensina que a alma de Cristo desceu ao inferno para conquistar a morte e o diabo (tomar as chaves) e para libertar as almas dos homens justos e bons, que desde a queda de Adão morreram por causa de Deus e na fé e na crença em Jesus, que estava para vir. Sua conquista destruiu qualquer reivindicação que o diabo tinha sobre os homens, e a descida foi parte do "resgate" pago por Cristo.
Mas, as Escrituras não ensinam que os crentes do Antigo Testamento foram para o Hades e que Jesus lá desceu para libertá-los. Esses crentes foram estar com Deus após a sua morte, Sl 73: 23-24. Enquanto Cristo estava na terra, Elias e Moisés já estavam com Deus no céu, e não no Hades, 2Rs 2: 11; Lc 9: 29-32.


Análise bíblica de 1Pedro 3: 18-20

1) Qual o significado das expressões "carne" e "espírito vivificado"?

Neste texto, Pedro está contrastando dois estados de existência de nosso Redentor.

a) O estado de limitação de Cristo.
"Na carne": este estado é a natureza humana de Cristo, 1Pe 4: 1; 1 Jo 4: 2; 2Jo 7; Jo 1: 14; 1Tm 3: 16, Rm 1: 3-4. A expressão "morto na carne" faz referência quando Jesus morreu e saiu do estado de fraqueza e de limitação.

b) O estado de não-limitação - "espírito vivificado". A expressão "vivificado no espírito" se refere à natureza divina de Jesus. Seu estado antes de sua encarnação. E foi neste estado que Ele pregou aos "espíritos em prisão".
Quando o texto fala que Jesus "vivificado em espírito foi e pregou, não está se referindo a um lugar depois de sua morte, mas onde Ele estava quando havia desobedientes dos tempos de Noé" (v. 20). Foi neste espírito que Ele pregou através dos profetas.
A palavra "também" do v. 19 mostra a ênfase do estado de limitação para o estado de não-limitação. Dito de outra forma: Cristo pregou quando estava em nosso meio, como homem (dias de Sua carne), mas também pregou como Divino (não-limitação) nos dias de Noé através dos profetas.

2) Quando Cristo pregou?

O ensino desta passagem não é o que Cristo fez entre a morte e a ressurreição, mas o que Ele fez no seu estado antes da Encarnação - estado não-limitado, no tempo de Noé, 1Pe 1: 8-12.

3) Qual o conteúdo da pregação? O que Cristo pregou?

Jesus pregou o evangelho aos contemporâneos de Noé. Espiritualmente, Cristo estava presente em Noé quando este era o "pregoeiro da justiça", 2Pe 2: 5. Em 1Pe 1: 10-11, o apóstolo mostra o evangelho sendo pregado pelos profetas. Noé certamente pregou aos seus contemporâneos o evangelho e convocou-os ao arrependimento.

4) Quem são estes "espíritos em prisão" a quem Cristo pregou?
A expressão "espíritos em prisão" se refere às pessoas que no tempo de Noé (noutro tempo) rejeitaram a sua pregação e que foram consideradas "espíritos em prisão", incapazes de fazer qualquer coisa que os deixassem livres. Permaneceram no cativeiro espiritual; permaneceram incrédulos quanto à mensagem pregada por Noé e na prisão de suas almas.


Concluímos, portanto, afirmando que:
1) Não aceitamos: uma descida literal de Cristo ao Inferno; que o diabo possuía as "chaves" da morte e do inferno, que Jesus as tomou dele; uma segunda chance de salvação aos desobedientes após sua morte.

2) Aceitamos: que Cristo esteve sempre presente tipologicamente no Antigo Testamento, pregando através dos profetas o Evangelho de Salvação, Rm 4: 3; Gl 16-9, 2Pe 2: 5.



Fontes bibliográficas: 



1) Revista Fides Reformata, vol. IV, nº 1, 1999.
2) Revista Os Puritanos, nº 1, ano IX, 2001.

2 comentários:

  1. A gente não pode deixar de analisar que, o dilúvio veio, não por causa dos pecados dos moradores da terra, pois sem lei o pecado não tem força de punição. Mas era devido as maldades que imperava o mundo. Seria debalde Cristo pregando nos dias de Noé àqueles homens, tanto é que ninguém se converteu a sua pregação. Seria como um cristão pregar no prostíbulo. Quem, num prostíbulo daria ouvidos a uma pregação? Ou seja, quem daria ouvidos a Noé naqueles dias?

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