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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O QUADRILÁTERO WESLEYANO – EM JOHN WESLEY



Albert C. Outler


            Por cinco décadas inteiras, John Wesley serviu como mentor teológico do 'povo chamado Metodista', com ninguém semelhante a ele, ou algum rival bem sucedido. Em toda a metade do século, ele se envolveu em uma controvérsia doutrinária depois de outra — com os sacerdotes Anglicanos e bispos; com sectários Calvinistas (clérigos e leigos), e com dissidentes ocasionais, dentro de suas próprias "conexões". Consenso doutrinário foi sua primeira preocupação, e um pré-requisito para a estabilidade nas sociedades Metodistas. Assim, no início de sua primeira "conferência", com seus "assistentes" (1744), as primeiras questões colocadas para discussão foram:

      (1) O que ensinar?
      (2) Como ensinar?
      (3) O que fazer (ou seja, como equilibrar nossa doutrina, disciplina e prática?)

            Havia, é claro, nenhuma questão na mente de quem quer que seja, que tivesse a palavra final nessas conversas, mas todos concordavam que essas eram as questões corretas para uma sociedade religiosa dentro de uma igreja estabelecida.

            Como o movimento Metodista espalhou-se e amadureceu, Wesley o supriu com grande quantidade de instrução teológica e ética, em diferentes gêneros: sermões, cartas, tratados, notas exegéticas, um enorme Diário, até mesmo uma monografia inteira (sobre o Pecado Original). Mas – e este, é claro, é o meu ponto – existe apenas uma instância, em todos esses, de alguma coisa semelhante ao credo doutrinário (em sua 'Carta' aberta 'a um Católico Romano', 1749) e, mesmo esta, foi um empréstimo óbvio da clássica Exposição da Doutrina e Credo do Bispo John Pearson — a contraparte para a Profissão de Fé e Catecismo Mais Resumido da Westminster. Wesley parece nunca ter brincado com a noção de uma 'summa theologiae' – nem mesmo um catecismo. O que, então, ele esperava que seu povo identificasse como suas 'doutrinas padrão?'.

            Seu primeiro movimento foi abreviar as primeiras quatro Homilias Eduardianas (de 1547), em um breve título teológico: A Doutrina da Justificação, em conformidade com a Igreja da Inglaterra (Diário –> 11. Nov.1738). Então, quando o Avivamento ganhou força, ele se voltou para o método do diálogo conciliário, reunindo seus assistentes, através de convite. Ele mesmo registrou o desfecho de suas discussões e o publicou em uma série cumulativa de Minutas das Conversas entre o Rev. Sr. Wesley e Outros (1744 et seq). Na verdade, a essência teológica dessas "minutas" reflete, muito bem, a mente e o espírito do primeiro Metodismo. A versão delas ("As Minutas Maiores") foi aceita pela novata Igreja Episcopal Metodista na América, e assim, pode ser considerada como incluída dentro do escopo daquela frase notoriamente ambígua na "Primeira Regra Restritiva" (1808). No Livro Metodista da Disciplina, concernente aos "nossos existentes e estabelecidos padrões doutrinários".

            Em 1763, no que veio a ser conhecido como "Documento Padrão", Wesley estipula os limites negativos da doutrina Metodista – isto é, os professores nas capelas Metodistas não poderiam pregar 'qualquer outra doutrina do que a que estava contida nas Notas Sobre o Novo Testamento do Sr. Wesley, e nos quatro volumes de Sermões'. Isto abasteceu seu povo com um cânone doutrinário que era estável, o suficiente, e ainda assim, flexível. Nele, as Escrituras Santas situam-me, em primeiro lugar, contudo, sujeitas às interpretações que são instruídas pela "Antiguidade Cristã", razão crítica e um apelo existencial à "Experiência Cristã" da graça, tão firmemente realçada nas Notas Explanatórias. Os "Quatro Volumes" mencionados no "Documento Padrão" continham tanto os quarenta e três ou quarenta e quatro sermões, dependendo, se alguém considera os "Pensamentos Errantes" (não estava na primeira edição dos "quatro volumes" [1760], mas apareceu nas edições subseqüentes). Tudo isto sugere que Wesley foi igualmente claro em sua aversão, tendo tais normas definidas tão minuciosamente, ou de uma forma tão jurídica. Assim, ele estava satisfeito com as "notas" exegéticas (ansioso para apropriar-se em grande quantidade de outras), acrescentando uma amostragem de sermões (ele teria rejeitado a grande quantidade de "sermões padrões" discutíveis) e os hinos de Wesley (os de Charles e os seus), evidentemente. Essas normais não confessionais serviram bem ao seu povo, na melhor parte de dois séculos inteiros.

            A recusa de Wesley em definir "padrões doutrinários" tão minuciosamente, como uma matéria de princípio, de maneira alguma foi um sinal de uma mente indecisa. Tal noção não faz sentido, quando alguém considera quão firme era o seu próprio entendimento teológico (como refletido em seus escritos controversos), e em suas decisões arbitrárias, como editor. Pegue um simples exemplo de diversas centenas: em uma Livraria Cristã (vol.31), ele se sente livre para fazer algumas revisões absolutamente drásticas do Catecismo Mais Resumido de Westminster, e, assim, por sua própria autoridade "corrigir" o que era um texto semi-sacrossanto!  Houve, também, suas igualmente drásticas revisões do Livro Comum de Oração, com sua brusca autojustificação em simplesmente ter omitido uma larga fração do Saltério [Livro dos Salmos de Davi], caracterizando os salmos excluídos como 'não adequados para a boca de uma congregação cristã'. Não. A recusa de Wesley em abastecer o povo Metodista com uma confissão para subscrição foi a convicção de um homem que conhecia sua própria mente, em todas as questões discutidas da doutrina Cristã, mas quem havia decidido que aquela redução da doutrina para alguma forma específica de palavras causaria mal entendido na mesma natureza das declarações doutrinárias.

            Mas isto significa, então, que Wesley era uma pessoal indiferente? Seus conceitos úteis da autoridade doutrinária foram cuidadosamente desenvolvidos; eles eram complexa e dinamicamente equilibrados. Quando objetado por causa da sua autoridade, em alguma questão, seu primeiro apelo era para a Bíblia Sagrada, sempre no sentido do Artigo VI, nos Artigos XXXIX – com os quais concordara, mas os quais ele estava preparado para citar como inexatos.

Mesmo assim, ele estava bem consciente de que as Escrituras apenas raramente tinham estabelecido alguns pontos controversos da doutrina. Ele e seus críticos tinham repetidamente chegado a um impasse em seus jogos de provas textuais – freqüentemente com os mesmos textos! Assim, embora nunca como um substitutivo ou corretivo, ele apelaria também para a 'igreja primitiva' e para a tradição cristã, como testemunha inteiramente competente e complementar do 'significado" desta Escritura ou daquela. Até mesmo, em tais apelos, ele foi cuidadosamente seletivo. Por exemplo, ele clamou o direito de rejeitar as clausulas condenatórias no assim chamado 'Credo Atanasiano" [Referente Santo Atanásio, bispo de Alexandria, falecido em 373, e que combateu os arianos. Símbolo de fé, atribuído a Santo Atanásio, e que outrora era rezado durante a Prima, no ofício dominical];  ele estava preparado para defender Montano [Montanismo -> Doutrina ou seita do século II, fundada por Montano, que afirmava estar próxima a vinda do Espírito Santo à Igreja e a descida da Jerusalém celeste. A seita tomou caráter ascético, condenando segundas núpcias} e Pelágio [Pelagianismo -> Doutrina dissidente do frade Pelágio, segundo a qual não existe pecado original, nem a necessidade da graça Divina da salvação], contra seis detratores. Ele insistia que 'o julgamento privado era a pedra fundamental da Reforma Protestante'.

            Mas as Escrituras e tradição não seriam suficientes, sem os bons ofícios (positivo e negativo) da razão crítica. Assim, ele insistiu na coerência lógica, e como um juiz autorizado em alguma discussão entre proposições ou argumentos contrários. E, ainda assim, isto nunca foi suficiente. Como ele soube, por si mesmo, esta foi a experiência vital cristã da segurança do perdão dos pecados, que encerrava o assunto.

            Assim, nós podemos ver em Wesley um método teológico distinto, com as Escrituras como sua norma preeminente, mas dividindo lugar com a Tradição, Razão e Experiência Cristã, como auxilio dinâmico e interativo na interpretação da Palavra de Deus nas Escrituras. Tal método toma como garantido que a fé é a reação humana a uma ação antecedente da proveniência do Espírito Santo, concentrado em convencer nossas consciências e abrir nossos olhos e ouvidos para discurso de Deus a nós nas Escritos. Isto significa que nosso 'conhecimento de Deus e das coisas de Deus' é mais aproximadamente uma resposta da fé confiante em Deus em Cristo, como a Graça encarnada do que uma aquiescência mental para formulações dogmáticas, por mais que verdadeiras.

            Isto auxilia na explicação das consideradas depreciações de Wesley sobre a 'ortodoxia', 'opiniões teológicas', 'divindade especulativa', e similares. Ela ilumina sua preocupação com a teologia e sua noção distinta da graça, em todos os seus moldes, como a continuidade divina em todos os estágios, com o 'objetivo da salvação' (do arrependimento e justificação, para a regeneração; santificação para a glória). E isto justificou a prontidão de Wesley, em fornecer consenso honesto sobre a doutrina essencial cristã, e permitir amplas variações na formulação teológica, de maneira que os cristãos 'pensassem e deixassem pensar'. Isto foi menos um modo de compromisso doutrinário do que uma alternativa construtiva para os extremos estéreis do 'dogmatismo', de um lado, e o 'indiferentismo', de outro.

O pluralismo teológico de Wesley era bíblico em substância (firme e claro em seu foco Cristocêntrico) e irônico em seu temperamento ("espírito católico"). Ele mensurou todas as afirmações doutrinárias, através de sua base e garantias. Ele amou intimar seus leitores 'às cartas e testemunhos', entendidos como 'os oráculos de Deus'. Mas esta confiança nas Escrituras, como a fonte da revelação, nunca significou causar obstáculo ao apelo concomitante aos "insights" de sabedoria e cristãos santos em todas as épocas. E nunca deu permissão para o 'fanatismo', ou argumentos irracionais. Finalmente, uma vez que os demônios são, pelo menos, tão claros em seus assentimentos teológicos quanto os crentes, os cristãos verdadeiros são chamados além da 'ortodoxia', para autenticar a experiência, isto é, o testemunho interior do Espírito Santo de que somos filhos amados de Deus, e co-herdeiros com Cristo. É esta consciência estabelecida da segurança pessoal que é a 'religião do coração': o mudar nossos corações, da forma para o poder da religião'. A experiência cristã acrescenta nada à substância da verdade cristã; seu papel distinto é energizar o coração, de modo a capacitar o crente a falar e praticar a verdade no amor. 

            Este método complexo, com sua referência quádrupla, é um bom acordo, mais sofisticado do que ele parece, e pode ser mais frutífero, para a teologia contemporânea do que já tem sido realizado. Ele preserva a primazia das Escrituras; tira proveito da sabedoria da tradição; aceita as disciplinas da razão critica, e sua ênfase sobre a experiência cristã da graça dá a ele força existencial.

            Os reformadores Eduardianos (Cranmer e Harpsfield, em particular) colocaram a Igreja da Inglaterra, sob a autoridade das Escrituras, mas eles não tinham, então, focado seu uso, mais largamente, na liturgia (de modo que 'os camaradas cristãos estariam imersos nas Escrituras, quando orassem!'). As Escrituras são igualmente a linha principal das experiências doutrinárias anglicanas, especialmente, aquelas nascidas da controvérsia. Tem-se apenas que notar as diferenças no método e intenção, diz Richard Hooker nas "Leis da Política Eclesiástica" (1954 et. seq.), para ver quão distante o Anglicanismo permaneceu à parte do Protestantismo continental.

Em Hooker, as Escrituras, Tradição e Razão são cuidadosamente equilibradas, em uma visão da lei natural, 'cujo trono é o seio de Deus; cuja voz é a harmonia do mundo'. (E.P.,I, xvi, 8). Não existe contradição, entre os descobrimentos da lei natural, pela razão, e os descobrimentos da revelação, pela fé (cf. E.P. III, ix, 2). Os Bispos John Bramhall e Simon Patrick se especializaram em 'Antiquidade Cristã', e fizeram bom uso. Thomas Tenison (Arcebispo de Canterbury, quando seus irmãos Wesley morreram) definiu 'o Método Teológico Protestante', como o conjunto do 'uso das Escrituras, Tradição e Razão', e defenderam isto contra os Socinianos [Doutrina de Socini, também chamado Socino, que rejeitava a Trindade e especialmente a divindade de Jesus] (que haviam reduzido proporcionalmente, como Tenison acreditou, a tradição, terminando com nada melhor do que um tépido racionalismo bíblico). Mesmo depois de Wesley, Francis Paget (o melhor editor de Hooker) reivindicaria, muito plausivelmente, que 'a força distinta do Anglicanismo descansa sobre sua igual lealdade aos direitos não conflitantes da Razão, Escrituras e Tradição'.  Esta, então, foi a tradição em que Wesley se manteve; diante 'do Julgamento Final das Escrituras, da Escrituras, Razão Correta, e Antigüidade Cristã (Works, Preface, vol. 1, 1771).

            Foi a habilidade especial de Wesley que ele teve em mente ao acrescentar 'a experiência' à tríade anglicana tradicional, e, por meio disto, acrescentar vitalidade, sem alterar a substância. O que ele fez foi aplicar a distinção familiar entre "fides queer creditor" e "fides qua creditor" (de uma fé tradicional para uma existencial), de maneira a insistir na 'religião do coração', no lugar de toda a ortodoxia nominal cristã (cf. "O Quase Cristão"). Ele encontrou suporte para isto no comentário distorcido de Crammer (nas Homilias IV), sobre os demônios que aceitam toda a doutrina da ortodoxia, 'e ainda assim, eles continuam demônios'. Foi esta ênfase acrescida na 'experiência' que conduziu Gerald Cragg (em sua Razão e Autoridade no século XVIII) a intitular seu capítulo sobre Wesley de "A Autoridade da Fé Revitalizada". Wesley teria retificado para "A Autoridade da Fé Vital". Com esta 'quarta dimensão', alguém poderia dizer que Wesley tentou incorporar a noção da conversão, dentro da tradição anglicana – e criar um lugar nela para suas próprias conversões e aquelas de outros. Não é irrelevante que, em seu registro da assim chamada 'experiência Aldersgate', de 24 de Maio de 1738, ele nos leva de volta para sua primeira conversão (para a seriedade' e auto dedicação em 1725); desde a sua grande iluminação mística em 1727. Depois de 'Aldersgate', e depois de seus encontros ambivalentes com os Morávios em Herrnhut, o Diário reconta sua redescoberta de uma doutrina vital da justificação pela fé, em sua própria tradição, em Novembro de 1738. Mas isto tem sido, então, seguido por um lapso dentro das profundezas da inquietação religiosa (em Janeiro de 1739). O processo, então, alcançou seu clímax na primavera de 1739, com a 'descoberta' de sua verdadeira e longa vocação como evangelista e líder espiritual.

            O sucesso do Metodismo como uma sociedade religiosa dentro da Igreja da Inglaterra encorajou seu senso de liberdade para retificar costumes anglicanos, sem rejeitar a herança Anglicana. Ele calmamente ignorou a possibilidade de que, no processo da reforma da igreja nacional, ele estava abrindo um caminho para suas 'sociedades' eventualmente se 'separarem' e seguirem como 'seitas'; tentando tornar-se "corpus mixtum", Wesley requereu mais de suas sociedades, como comunidades disciplinadas de crentes verdadeiros.

à Contra a confiança na igreja como ministrante dos meios da graça, Wesley contrapôs com a doutrina da justificação pela fé apenas (e argumentou, erroneamente, que esta doutrina era novidade no Anglicanismo!).

à Com respeito à tradição anglicana da regeneração batismal, ele acrescentou a conversão e 'novo nascimento', como um requisito evangélico.

à Quanto à satisfação com o Livro de Oração, como uma cópia completa, Wesley acrescentou uma miscelânea de 'irregularidades': pregação no campo; oração de improviso; itinerância; classes de encontros, e similares.

à Quanto à tradição da aliança 'natural', entre a igreja e o estado, ele contrapôs com o conceito de igreja, como uma associação voluntária.

O efeito de tais mudanças foi colocar a questão da autoridade, dentro de um novo contexto: relacioná-la mais proximamente com a consciência individual, para o consenso de grupos pequenos. E também para ligá-la praticamente com a idéia de 'discipulado responsável', (para usar uma frase inteligente de David Watson). O efeito prático disto foi fazer de cada homem e mulher Metodista seu / sua próprio (a) teólogo (a). Em lugar algum, ele deu ao seu povo um paradigma efetivo para sua teologia; de qualquer maneira, esperou que eles adotassem seus modos de reflexão, como seus próprios. A verdade é que seus textos básicos, não anotados, não foram suficientes para criar, desses que continuaram a levar seu nome e que o honraram como patriarca, 'Wesleyanos' verdadeiros. Esta é a razão porque os editores da nova edição de suas Obras esperam que mais anotações amplas ajudem, tanto os 'Wesleyanos' e não Wesleyanos na 'descoberta' da riqueza e sofisticação de sua especial sorte de 'teologia popular'.

Portanto, até mesmo aquele pensamento agradável pode ser contrariado, por quanto tempo a frase, 'o quadrilátero Wesleyano', é tomada muito literalmente. Ela foi pretendida como uma metáfora, para a síndrome dos quatro elementos, incluindo o quádruplo das diretrizes da autoridade, no método teológico de Wesley. Em tal quaternidade, a Escritura Santa é claramente única. Mas isto, em contrapartida é iluminado pela sabedoria cristã coletiva, de outras épocas e culturas, da Era Apostólica e até a nossa. Ela também admite o resgate do Evangelho do obscurantismo, através dos meios das disciplinas e razão crítica. Mas sempre a revelação bíblica deve ser recebida no coração, pela fé: este é o requerimento da 'experiência'.  A teologia de Wesley foi eclética e pluralista (e eu confesso meu engano diante da hostilidade que se levantou em muitas mentes, através de tais adjetivos inocentes). Mesmo assim, ele foi um todo coerente, estável, derivando sua fertilidade de seu foco soteriológico [Doutrina relativa à obra de salvação realizada por Jesus Cristo em favor da humanidade], no Evangelho cristão de Jesus Cristo – 'que, por nós homens, e por nossa salvação, veio dos céus e foi feito homem!'.

            Quando eu comecei a ler a coleção completa de Wesley com alguns cuidados (depois de muitos anos, como professor credenciado em 'Historia do Pensamento Cristão'), eu fiquei perplexo pelo grande número de adições resumidas do 'Evangelho', que Wesley salpicou quase casualmente ao longo do caminho – nunca duas vezes, na mesma forma de palavras (o que sugere que, antes de Coleridge ou Wittgenstein, Wesley encontrou o segredo, aquela linguagem [e a linguagem da religião, em específico] está, pela sua natureza, 'incompleta'). Pouco a pouco, ficou claro para mim, que o propósito de Wesley nesses resumos foi focar novamente na completa extensão de sua reflexão teológica sobre o ponto crucial do assunto: e que deve ser chamado de salvação. Por exemplo:

            'Vamos profetizar de acordo com a analogia da fé' – como Pedro expressa isto, 'como os oráculos de Deus' – em conformidade com o temperamento geral deles, de acordo com aquele grande objetivo da doutrina que é entregue nisto, no tocante ao pecado original, justificação pela fé e apresentar a salvação interior. Existe uma analogia maravilhosa, entre todos esses, e uma ligação mais próxima e íntima entre os principais assuntos daquela fé 'que uma vez foi oi entregue a todos os santos'. [Notas Explanatórias sobre Romanos 12:6, sobre a 'analogia da fé']. 'De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé'.

            Ele é zeloso pelo diálogo teológico, mas sua preocupação real é com: a maioria das partes essenciais da religião experimental verdadeira: seu surgimento inicial na alma, que evolui para a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, que emerge na regeneração, é atendida com a paz e alegria no Espírito Santo, daí para nossas lutas com a carne e sangue, e, finalmente, para o amor perfeito [Carta Segunda do Bispo Lavington, X, 17].

            Todos os Wesleyanos estão familiarizados com suas metáforas de 'pórtico', 'porta', e 'lugar' e da 'religião verdadeira'. [Os Princípios de um Metodista, em Jackson, VIII 472-74]. Resumos similares ao "ordo salutis" abundam, alguns em lugares óbvios, mas alguns em lugares inesperados – como, por exemplo, no "Prefácio" das Notas Explanatórias do Velho Testamento (um volume vasto do qual foi simplesmente tirado de outros):

            [Ao lermos as Escrituras] temos um olho constante para a analogia da fé, que é, por assim dizer, a ligação que existe, entre aquelas grandes doutrinas fundamentais do pecado original, justificação pela fé, o novo nascimento, santidade interior e exterior.

                Como um sacerdote Anglicano, ele irá admitir a fé compartilhada com 'Um Cavalheiro de Bristol' (6 de Jan.1758), nos princípios da Igreja da Inglaterra, como sendo confirmada por nossa Liturgia, Artigos e Homilias – e assim, também, por todo o teor das Escrituras [note este frase cativante; ela é uma das favoritas, repetida em muitos contextos diferentes].

            Em outro lugar, ele resume o Evangelho essencial, em ainda uma outra série dessas:

  1. * Que, sem a santidade, nenhum homem verá ao Senhor;
  2. Que esta santidade e a obra de Deus, que opera em nós, tanto o querer quanto o fazer a sua vontade;
  3. Que Ele faz isto de seu bom prazer, meramente pelos méritos de Cristo;
  4. Que a santidade é ter a mente que estava em Cristo, nos capacitando a caminhar, como Ele caminhou;
  5. Que nenhum homem pode ser santificado, até que ele seja justificado;
  6. Que nós somos justificados pela fé, apenas.

["A Expansão Geral do Evangelho"]

Isto vem em um sermão; esta forma específica de palavras nunca é usada novamente.

            A questão metodológica óbvia atribuída, através de resumos como estes, é se tais expressões diversificadas simplificam demais ou distorcem 'a essência do Evangelho Cristão'. Para Wesley, foi suficiente apontar para sua parte soteriológica, nos termos evangélicos. Até onde se refere à extensão completa das opiniões teológicas, ele está mais tranqüilo – até mesmo, a ponto de tolerar as 'crenças a mais' dos Católicos Romanos, e também das doutrinas Reformadas da eleição e predestinação. É este equilíbrio habilidoso dos princípios básicos do adiaforismo [tolerância religiosa], que permite a Wesley escapar das rigidezes do dogmatismo e da flacidez do indiferentismo.

Na nova edição das Obras de Wesley, nós temos tentado alertar, até mesmo o leitor casual, quanto à dimensão de Wesley, já que ele alegava que era, "homo unius libri" – "homem de um só livro". Uma dimensão que eu não imaginei, até que eu usasse a primeira das duas concordâncias [relações de palavras no topo da Bíblia] e descobrisse nas citações bíblicas de Wesley (referências, citações, frases, alusões, repetições) que a Bíblia era verdadeiramente sua segunda Língua. Sua retórica é um tecido trançado dos textos bíblicos e paráfrases, e sua própria prosa Augustana concisa ("verdade simples, para pessoas simples"). Seu apelo às Escrituras é muito mais profundo do que o uso de textos no suporte de suas próprias visões. Sua preocupação maior foi permitir que cada parte das Escrituras fosse ponderada, sob a luz do todo; e os textos obscuros, sob a luz dos mais lúcidos – e todos eles, sempre, sob o espírito da oração, "coram Deo" – "Deus face-a-face". As Escrituras não são meramente o discurso de Deus ao que crê -- mas são inspiradas pelo Espírito Santo que, por sua vez, inspira o entendimento de quem crê. A Bíblia é para ser lida literalmente, salvo onde tal leitura conduza a um absurdo ou a uma impugnação da bondade de Deus Os mandamentos bíblicos não são para serem construídos legalisticamente; são para serem vistos também como 'promessas ocultas'. Recorre-se até mesmo às parábolas, ocasionalmente (como com a imagem do "O Estado de Deserto"). As Escrituras Apócrifas podem ser usadas para edificação, embora não para os textos dos sermões. Wesley era capaz de prova textual partidária; e ainda assim, se sentir também livre para alterar o "Textus Receptus", através do apelo ao mais antigo MSS (?); e ele tinha nenhum receio em matizar algumas palavras gregas arbitrariamente (como os paroxismos em Atos 15:39 'E houve entre eles tal desavença que se separaram um do outro, e Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre'), onde ele insiste que apenas Barnabé perdeu o controle, mas nunca Paulo. A impressão mais clara que permanece, depois de todo o tédio de traçar as fontes bíblicas de Wesley, é a de um homem muito 'em casa' na Bíblia, e tranqüilamente confiante de seu entendimento do seu 'teor geral'.

            Existe um outro sentido, entretanto, em que a noção de Wesley como um homem de 'um livro apenas', é evidentemente absurda. Ele leu vorazmente e em todos os gêneros. Ele teve uma afeição pelos 'Antepassados' dos primeiros séculos. Ele considerou que os teólogos gregos tinham entendido o Evangelho mais profundamente e terapeuticamente do que as suas contrapartes em Latim. Ele chegou aos Antepassados com uma propensão anglicana (ele tinha estado em Oxford, no crepúsculo de uma grande era de  conhecimentos patrísticos), na tradição de Richard Field, Henry Hammond e Simon Patrick. Ele não se sentiu intimidado, através dos detratores cultos da sabedoria patrística (como Jean Daille e Conyers Middleton).

            O que Wesley aprendeu mais dos antepassados orientais foi a rica noção da vida cristã, como uma participação na natureza divina (isto é, a salvação, como a restauração da imagem decaída de Deus na alma humana). O estágio para sua 'experiência Aldersgate' tinha sido estabelecido pelas Escrituras, com  que ele começou aquele dia: (II Pedro 1:4) 'pelas quais ele nos tem dado as suas preciosas e grandíssimas promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo'. (conforme a paráfrase de Wesley: "ta megista hemin timia epangelmata dedoretai, hina genesthe theias hoinonoi physeos", e a frase crucial, 'parceiros da psique divina').

Foi este sentido da participação na vida divina que Wesley entendeu dos mistérios da graça e vontade livre; da graça preveniente, como uma iniciativa constante do Espírito Santo, da 'perfeição', como um processo, melhor do que um ato completo. Existe uma tal linguagem Anselminiana [Anselmo, teólogo e filósofo agostinista italiano], em Wesley ('absolvição'; 'imputação'), mas existe ainda mais daquelas noções veementes de cura (psicoterapia). Ele não era nem "Augustiniano" [com respeito ao Agostinianismo -> doutrinas filosóficas (escolásticas e modernas) inspiradas na teologia de Santo Agostinho]. (Na verdade, ele tem alguns comentários mordazes sobre o grande bispo); nem Pelagiano [Frade Pelágio, segundo a qual não existe pecado original, nem necessidade da graça divina para a salvação] – e ele interpretaria "dikaiosyne", não apenas como a 'imputação' da retidão de Cristo no crente arrependido, mas também sua 'concessão'.

            Das tradições latinas, ele parece ter aprendido muito de homens como William de St. Thierry — que ensinou que o amor é a forma mais sublime de conhecimento – e dos Victorines [Sociedade de Estudos – Paris] (Ruprecht de Deutz, Hugh et al.) com sua noção audaciosa de que Deus usou a Queda de Adão para realizar um bem maior do que se Adão não tivesse pecado (O felix culpa! [Ó culpa Abençoada!]).

            Tudo isto é um modo de dizer que, para Wesley, a tradição cristã foi mais do que uma curiosidade, ou uma fonte de material ilustrativo. Foi uma fonte viva do "insight" cristão. Lendo Wesley contra suas fontes resulta em uma excursão excêntrica, através do comprimento e largura da história do pensamento de Cristo. E porque uma consciência da 'tradição' vem agora ser um pré-requisito no diálogo ecumênico (conforme o recente ensaio de J. J. Pelikan, "A Validação da Tradição"), é  o mais importante para os "Wesleyanos" (e outros), se certificarem do quanto ele aprendeu do passado cristão, e, assim também, aprendermos a importância de nos sentirmos verdadeiramente 'em casa' naquele passado.

            Mas Wesley não foi antiquário. Nós sabemos de sua tendência nata para buscar uma razão para tudo da bem conhecida queixa de seu pai a Suzanna sobre seus hábitos pessoais. Ele nunca desprezou seu treinamento universitário na lógica, nem seu interesse vitalício na ciência contemporânea e cultura. Ele viveu na transação perigosa do mais recente racionalismo teocêntrico, que buscou conciliar religião e ciência (como na "Sabedoria de Deus na Criação" de John Ray – o protótipo para a "Visão da Sabedoria de Deus na Criação" de Wesley), para a completa rejeição da 'Iluminação' do supernaturalismo (como nos deístas [os que crêem em Deus, mas rejeitam a revelação] e David Hume).  Ser um teólogo britânico no século XVIII foi debater-se com Deísmo e Secularismo [Doutrina segundo a qual devem ser excluídos da educação pública e de outros assuntos estatais elementos religiosos] (Joseph Butler, William Paley et al.). O reconhecimento de Wesley da racionalidade como normativo foi ambos competente e pragmático. Ele usou a ordem lógica, como um paradigma para a ordem de ser ele mesmo (como qualquer bom Ramista [Ramismo -- Filos Doutrina do filósofo e gramático francês Petrus Ramus -1515-1572-, que se propunha construir uma nova lógica - oposta à lógica de Aristóteles] seria, ou mais recentemente os Kantianos [Doutrina Emmanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão]). Ele permaneceu um discípulo de Locke e Aldrich, todos os seus dias. Mas seu vivo senso de mistério o manteve desperto para as limitações da razão (como no sermão "O Caso da Razão Imparcialmente Considerada"). Richard Brantley (em Loch, Wesley e o Método do Romantismo Inglês -1984-) tem analisado a influência de Locke sobre Wesley. Mas ninguém, pelo meu conhecimento, forneceu um estudo comparável de Wesley e Malebranche, ou dos Platonistas [Platonismo - Filosofia de Platão, filósofo grego (428 ou 427-348 ou 347 a.C.] de Cambridge, ou John Norris, ou Bishop Berkeley).

            O entendimento de Wesley da razão o conduziu para uma epistemologia religiosa que se dobra, crucialmente, sobre suas visões da intuição, como um 'sentido espiritual' na mente humana, e que constitui o que é mais distintamente humano: a saber, nossa capacidade para Deus. Esta é a parte do desígnio criativo e aponta para a principal válvula de entrada do Espírito Santo na alma e espírito humano. Recentemente no ano passado, uma dissertação foi aceita pela Universidade Angélica de Roma, sobre a Perceptibilidade da Graça em John Wesley (por Daniel Joseph Luby— um leigo!). É uma investigação majestosa da importância, para Wesley, da 'percepção imediata' [da real espiritualidade]. Tais desenvolvimentos inesperados nos lembram de como nós também necessitamos de uma monografia madura sobre a 'racionalidade no espírito Wesleyano'. Até porque 'nosso conhecimento de Deus e das coisas de Deus' não vem da intuição, inferência ou dedução apenas. Sempre é um dom preveniente e imerecido, e devemos, portanto, sermos experimentados, quando na mudança interior do coração e mente, no qual as intuições da mente, sobre verdade, são realizadas no coração, (como quando Cristo por nós tornou-se Cristo por mim).

            Aqui se faz necessário uma distinção. A 'experiência da graça' é, de fato, profundamente interior, mas não é meramente 'afeição religiosa' subjetiva. É um conflito objetivo (dentro 'do coração' para ser claro) de alguma coisa, não nós mesmos, e não nossa própria (alguma coisa verdadeiramente transcendente). É a segurança interior de uma realidade objetiva: a saber, favor imerecido de Deus, sua misericórdia redentora, a consciência da preveniente ação do Espírito, na mediação da graça de nosso Senhor Jesus Cristo ao crente. É, portanto, a experiência de uma doação -- uma ação divina que pode apenas atuar, na fé confiante ou na resistência orgulhosa. É esta ênfase sobre a absoluta doação do "insight" espiritual e da graça divina que distingue Wesley de Pelágio – e, no que diz respeito ao assunto, de Armínio [teólogo protestante holandês que negava a predestinação] e Episcópio. Tivesse Kant (seu mais jovem contemporâneo!) conhecido Wesley, ele teria concordado com, pelo menos, os primeiros dois parágrafos de sua primeira "Crítica da Razão Prática" (1788):
           
Não pode haver dúvida de que nosso conhecimento começa com a experiência ... na ordem do tempo, portanto, nós não temos conhecimento antecedente à experiência, e com a experiência todos os nossos conhecimentos começam.
     
            Mas, embora todo nosso conhecimento comece com a experiência, não se segue que ele surge fora da experiência...

            Quando, portanto, as almas zelosas e devotas concluem que a intensidade ou interioridade de nossos próprios sentimentos é a medida da verdade (e, quando eles invocam o 'coração estranhamente aquecido' de Wesley, como um testemunho de tal correlação), nada, a não ser a sentimentalidade devota pode se seguir e, com ela, uma espécie de narcisismo que prontamente muda para um anti-intelectualismo. As formas verbais, na frase familiar, 'Eu senti meu coração estranhamente aquecido', nos dão um entendimento insuficientemente revelado. 'Eu senti' é a voz ativa; 'estranhamente aquecido' é a voz passiva.

Sob esta luz, alguém pode ler com proveito um outro dos 'sumários' de Wesley, este da essência da experiência cristã no que tem de melhor:

            As palavras não podem expressar [e ele foi sério em sua convicção de que a linguagem religiosa é apofática e, portanto, também polissêmica] o que os filhos de Deus experimentam. Mas, talvez, alguém pudesse dizer (desejando-se alguém que é ensinado por Deus a enfraquecer ou fortalecer a expressão) que 'o testemunho do Espírito' é uma impressão interior da alma, por meio da qual o Espírito de Deus diretamente testemunha com meu espírito que eu sou um filho de Deus; que Jesus Cristo me amou e deu a si mesmo por mim – e que todos os meus pecados foram apagados e que eu, até mesmo eu, estou reconciliado para Deus ["O Testemunho do Espírito"].

            O comentário do Dr. Sugden sobre esta passagem, invocando a autoridade de W. B. Pope, fez Wesley repreender esta ênfase sobre a objetividade da atividade do Espírito e da regra humana como reativa totalmente. Isto nos lembra como, na história do teologizar Metodista, os esforços heróicos de Wesley para nos poupar da subjetividade e a sentimentalidade, tão freqüentemente, e tão largamente, foi reduzido a zero. O método teológico de Wesley foi distinto, e talvez, único (já que ninguém pode identificar alguns de seus discípulos que adotaram-no, como um todo, ou em seu espírito teológico). Adam Clarke, Richard Watson, W. B. Pope, e outros apreenderam muito da essência dos ensinos dos patriarcas, mas eles estiveram propensos a observá-lo como um teólogo biblicista (Clarke) ou sistemático (Watson e Pope). Na verdade, Watson foi tão longe, a ponto de intitular sua própria exposição da teologia Wesleyana no molde Calvinista, de Institutos Teológicos.

Todos os Wesleyanos têm concordado com a primazia das Escrituras, e, então, diferido (não sempre proveitosamente) em suas perspectivas hermenêuticas. Isto me parece ter vindo de uma negligência do próprio foco hermenêutico de Wesley sobre a 'analogia da fé'; eu não posso citar um simples ensaio, por uma exegeta ou teólogo, no qual a analogia fiel é uma noção dominante. No século XVIX, a confiança de Wesley sobre a tradição cristã como um todo (e, especialmente 'Os Antepassados' foi calmamente rejeitada (até mesmo, pelos historiadores Metodistas, como Sheldon e Cell). Sua confiança na razão, dentro de seus próprios limites, abriu caminho para um anti-intelectualismo emotivo, ou quem sabe, seu oposto: por exemplo, uma super confiança na razão  (como em Bowne e Brightman). Seu foco sobre a 'experiência' –como uma categoria soteriológica – se voltou para uma variedade de empirismos, escorados por um apelo pragmático para os 'resultados práticos'.

O termo 'quadrilátero' não ocorre na coleção completa das obras de Wesley – e mais do que uma vez, eu tenho lamentado ter forjado isto para uso contemporâneo, uma vez que ele tem sido interpretado mal, tão amplamente. Mas, se nós devemos aceitar nossa responsabilidade por buscarmos o intelecto para nossa fé, de alguma outra forma do que o 'sistema teológico', ou, alternativamente, uma afirmação jurídica de 'padrões doutrinários', então, este método de um recurso conjunto para as diretrizes quádruplas das Escrituras, tradição, razão e experiência, pode reunir mais promessas para um futuro evangélico e ecumênico, do que o que nós já temos conseguido – através da comparação, por exemplo, com biblicismo, ou tradicionalismo, ou racionalismo, ou empirismo. É muito mais válido, do que a redução da autoridade cristã a uma díade de 'Escrituras' e 'experiência', tão comum nos grupos Metodistas hoje. O 'quadrilátero' requer de um teólogo não mais do que ele ou ela poderia considerar razoavelmente explicável: o que quer dizer uma familiaridade com as Escrituras, que é tanto crítica quanto fiel; acrescida, de uma familiaridade com a sabedoria dos cristãos do passado; acrescida de um gosto pela análise lógica, como alguma coisa mais do que armas de argumentadores; acrescida de uma fé vital, interior, que é sustentada pela segurança da graça e seus triunfos esperados, nesta vida.

A época que aparece indistintamente diante de nós, quer gostemos dela ou não, é uma época pós-liberal, em que os dogmatismos das ortodoxias pré – Iluministas e os dogmas confiantes do 'liberalismo' (por exemplo, 'progresso' e 'perfectibilidade humana') parecerão ficar cada vez mais antiquados. Isto é, prognosticamente, um tempo de preocupações pelo mundo todo, com nenhum futuro assegurado para nosso planeta saqueado, ou uma humanidade devotada a si mesma – estratégias derrotistas, mascarada com as ilusões das boas intenções. Os ainda – fragmentos divididos da comunidade cristã estão mais interessados no consenso doutrinário honesto do que alguma vez fora antes. Mas isto é também dizer que é chegado o tempo, quando o estudo de Wesley tem uma contribuição distinta a fazer.

Nem a teologia de Wesley, nem seus métodos são panacéias simples. Eles não são como os banquetes de TV que podem ser requentados e servidos rapidamente para uso imediato. Eles clamam pela atualização, produtiva espiritualmente, nos contextos culturais do novo mundo (uma sorte de coisa que João XXIII falou a respeito como 'aggiornamento' – cuidado em preservar o âmago, imaginação em renovar o mediano). A visão de Wesley da existência cristã deve ser concebida novamente e trans-valorizada, de modo que ela possa ser tão relevante na experiência do recente século XX, quanto foi para os homens e mulheres alienados em 1740! Isto requer que ela deva ser focada novamente nos caminhos, nem doutrinários, por um lado, nem modernos por outro. Wesley esquivava-se de tais polarizações infrutíferas e, assim, também nós – se nossos teólogos, como os dele, estiverem tão profundamente imersos nas Escrituras ('em casa', em seu imaginário e mistério), tão verdadeiramente respeitosos para com a sabedoria cristã das épocas passadas; tão honestamente abertos para as disciplinas da razão crítica; tão zelosamente alertas para o fogo e chama da graça.

O caminho complexo de Wesley para teologizar tem a vantagem ecumênica de produzir sistemas articulados frutíferos com outras tradições doutrinárias, sem ameaçar substituir qualquer uma delas, e sem o temor de transgredir sua própria identidade. Existem, portanto, pelo menos duas condições prévias para tais sistemas articulados: que Wesley seja resgatado dos estereótipos, em que seus discípulos professaram tê-lo isolado, e que nós recuperemos, para nós mesmos, a rica variedade de tradição, do qual ele fez uso tão livremente e criativamente. Essas condições podem ser mais bem consideradas, estudando mais e mais do próprio Wesley (O Wesley completo, incluindo 'o recente Sr. Wesley', como na "A Christian Library" e "The Arminian Magazine"), e, ainda, também, estudando mais e mais, e por nós mesmos, da cópia rica de tradições cristãs das quais Wesley aprendeu tanto.

É um desafio atemorizante e eu confesso livremente que é mais de uma tarefa que eu mesmo tenho sido capaz de conseguir para minha própria satisfação. Mas eu posso testificar, com grande gratidão, que minha comunicação com Wesley e suas fontes têm sido imensamente enriquecedoras, em minhas preocupações teológicas, e em meu próprio crescimento na graça. É, portanto, com completa segurança que eu recomendo tais explorações, não apenas àqueles que levam a insígnia Wesleyana, mas a todos os outros que podem cuidar de prolongar sua familiaridade com um homem raro de Deus.

[Editado by Jason Gingerich para a Wesley Center for Applied Theology at Northwest Nazarene University © Copyright 2000 by the Wesley Center for Applied Theology]

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QUADRILÁTERO WESLEYANO

            O Quadrilátero Wesleyano é uma teoria que é creditada a John Wesley, um dos líderes do movimento Metodista da Igreja Protestante no século dezoito. É designado a servir aos cristãos, mas suas idéias básicas podem ser aplicadas virtualmente a qualquer um.

            O Quadrilátero diz que existem quatro autoridade, que nós podemos usar, para tomarmos decisões: -- a Bíblia, a Razão, a Tradição, e a Experiência – explicando-as como segue:

    *
            A BÍBLIA: Assumindo que existe o Deus teísta (Onisciente, Onipresente e Benevolente), o curso lógico de ação seria fazer o que quer que Ele diga. Ele é Deus, portanto, Ele pode dizer o que Ele quiser, até mesmo, se o que Ele afirma parece contradizer a lógica. Se existe alguma espécie de divindade superior, alguma forma de revelação especial que seja recebida dele deverá ser tratada com a máxima autoridade, uma vez que ela vem do ser que criou a própria lógica. 

      *

RAZÃO: A maioria das pessoas na sociedade provavelmente usaria a razão, antes da revelação; mas fazer desta forma seria ilógico. Na sua forma mais básica, a lógica não é nada mais do que distinguir o que é verdade e o que não é. Deus é necessariamente a verdade absoluta, então (novamente), qualquer coisa que Ele diga tomaria o lugar do entendimento de lógica humana, porque Sua verdade seria mais verdadeira que as nossas. Na maioria dos casos, não existe conflito entre Deus e a lógica, de maneira que não há necessidade de escolher entre os dois.

    *

TRADIÇÃO: Embora a tradição seja raramente o fator determinante em um argumento, ela nunca deverá ser desconsiderada simplesmente porque é tradição. Tradição, costumes, e crenças históricas existem por alguma razão, e, embora, algumas vezes, se prove que esta razão está errada, ela é freqüentemente válida. Tradições de uma igreja ou sociedade podem fornecer suporte para uma posição ou crença, mas elas nunca deverão ser usadas como um argumento autônomo.

    *
           
            EXPERIÊNCIA: A experiência pessoal pode ser difícil de usar em um argumento, porque é virtualmente impossível prová-las, no dia-a-dia, depois que elas acontecem. No entanto, alguém pode dizer: 'Os poodles não podem voar – (a) Eu nunca os vi voando –(b) ninguém que eu saiba os viu voando; e – (c) Eles não têm asas ou foguete, e vi poucas coisas que podem voar, sem asas ou foguetes'.  Não existe necessidade de recorrer à tradição, razão, ou revelação para se chegar a tal conclusão. Assim como a tradição, embora a experiência muito freqüentemente possa apenas fornecer suporte para um argumento.

            A idéia de um Quadrilátero é executada em todas aquelas quatro partes que estão ligadas. De maneira ideal, uma afirmação ou proposição concordaria com todas as quatro partes, mas a revelação toma a precedência absoluta. A razão vem em seguida; a tradição e a experiência seguem de perto. Ou se você preferir, as experiências das pessoas no passado.

Dr. John Smith

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