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sábado, 12 de outubro de 2013

O que é a Teologia da Libertação?


 Em termos simples, a Teologia da Libertação é uma tentativa de interpretar a Escritura através do sofrimento dos pobres. É em grande parte uma doutrina humanista. Tudo começou na América do Sul, na turbulenta década de 1950, quando o marxismo estava fazendo grandes ganhos entre os pobres por causa de sua ênfase na redistribuição da riqueza, permitindo que os camponeses pobres participassem da riqueza da elite colonial e, assim, melhorasse a sua situação econômica na vida. Como uma teologia, tem raízes católicas romanas muito fortes.

A Teologia da Libertação foi reforçada em 1968 na Segunda Conferência dos Bispos da América Latina, a qual se reuniu em Medellín, na Colômbia. A ideia era estudar a Bíblia e lutar por justiça social nas comunidades cristãs (católicas). Já que o único modelo governamental para a redistribuição da riqueza em um país da América do Sul era um modelo marxista, a redistribuição da riqueza para elevar os padrões econômicos dos pobres na América do Sul assumiu um sabor definitivamente marxista. Já que aqueles que tinham dinheiro eram muito relutantes em separar-se dele em qualquer modelo de redistribuição de riqueza, o uso de uma revolta populista (ou seja, dos pobres) foi incentivada por aqueles que trabalhavam mais perto dos pobres. Como resultado, o modelo de Teologia da Libertação estava atolada no dogma marxista e em causas revolucionárias.

Como resultado de suas tendências marxistas, a Teologia da Libertação, como praticada pelos bispos e sacerdotes da América do Sul, foi criticada em 1980 pela hierarquia católica, do Papa João Paulo pra baixo. A hierarquia mais alta da Igreja Católica acusou os teólogos da libertação de apoiar revoluções violentas e luta de classes definitivamente marxista. Esta perversão é geralmente o resultado de uma visão humanista do homem sendo codificada na Doutrina da Igreja por sacerdotes e bispos zelosos e explica por que a hierarquia católica agora quer se separar da doutrina e revolução marxista.

No entanto, a Teologia da Libertação se mudou dos camponeses pobres da América do Sul aos negros pobres na América do Norte. Temos agora a Teologia da Libertação Negra sendo pregada na comunidade negra. É a mesma filosofia humanista, marxista e revolucionária encontrada na Teologia da Libertação sul-americana e não tem mais base bíblica que o modelo sul-americano. A falsa doutrina ainda é falsa, não importa qual nome esteja ligado a ela. Da mesma forma que o fervor revolucionário foi agitado na América do Sul, a Teologia da Libertação está agora tentando agitar um fervor revolucionário entre os negros na América. Se a Igreja na América reconhecer a falsidade da Teologia da Libertação Negra como a Igreja Católica fez no modelo sul-americano, a Teologia da Libertação Negra irá sofrer o mesmo destino que a Teologia da Libertação na América do Sul, ou seja, será vista como uma doutrina falsa e humanista vestida com termos teológicos.


Fonte: Gotquestions



sábado, 23 de março de 2013

JUDAÍSMO, JUDEUS E JUDAIZANTES




Já nos primórdios da Igreja o apóstolo Paulo teve que combater as tendências da heresia judaizante. Na epístola aos Gálatas ele adverte àqueles que foram distraídos pelo judaísmo e sua lei para que voltassem à graça do evangelho de Cristo. Também deixa bem claro que o judaísmo, assim como todo sistema religioso, faz parte deste "mundo mau". O apóstolo destaca que o propósito de Cristo, ao entregar-se pelos nossos pecados, era nos resgatar e nos tirar da religião judia e do "presente século" (cf. Gálatas 1.1 - 12).
Nos últimos cinqüenta anos as igrejas evangélicas têm sofrido uma notável atração por tudo o que possa ser relacionado a "Israel". A adoção do linguajar velho-testamentário, o estilo de adoração, a celebração de festas do calendário levítico não são mais que a parte visível do grave desvio doutrinário existente. Há uma tendência generalizada a acreditar que o atual Estado de Israel, os judeus como povo e a religião do Velho Testamento estão revestidos do favor divino.
Para sermos claros em nossa exposição queremos antes aclarar o que entendemos por judaísmo, judeus e judaizantes. Judaísmo é a formação social, cultural, política e religiosa do povo hebreu, baseada dogmaticamente no Velho Testamento e na tradição rabínica. De acordo com o uso comum na atualidade, o termo judeu faz referência à pessoa de descendência hebraica ou a outra convertida ao judaísmo. Conseqüentemente, judaizante é toda pessoa que observa, pratica e divulga os ritos e leis do judaísmo.
Em sete breves teses esperamos lançar luz sobre o assunto, e conclamar a Igreja para voltar aos padrões de fé da Nova Aliança firmada no sangue precioso de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador (cf. Hb 7 - 10).

O Israel natural foi eleito e estabelecido para receber a revelação de Deus e preparar o mundo para a chegada do Salvador.

O SENHOR escolheu Israel como depositário dos oráculos divinos, e como um povo sacerdotal para adorar ao único Deus verdadeiro. "Agora, se me obedecerem e cumprirem a minha aliança vocês serão o meu povo. O mundo inteiro é meu, mas vocês serão o meu povo, escolhido por mim. Vocês são um povo separado somente para mim e me servirão como sacerdotes." Ex 19.5 - 6 (cf. Rm 3.1,2)
No seio do seu povo eleito o SENHOR prometeu que nasceria o Salvador do mundo, por meio dos profetas Ele anunciou que estabeleceria uma Nova e Eterna Aliança com todas as nações. O propósito da existência de um povo separado era esse somente. "Vamos subir o monte do SENHOR, vamos ao Templo do Deus de Israel. Ele nos ensinará o que devemos fazer, e nós andaremos nos seus caminhos. Pois os ensinamentos do SENHOR vêm de Jerusalém; do monte Sião ele fala com o seu povo." Is 2.3 (cf. Jr 31.31 - 34; Jo 4.22).

Os judeus naturais, na atualidade, não são o povo escolhido de Deus.

Os judeus, ainda hoje, crêem que o povo de Israel goza de uma relação especial e exclusiva com o SENHOR Deus. Através da história essa tem sido a idéia fundamental para a unidade, e sobrevivência, do povo hebreu. Do ponto de vista judeu Deus tem dois propósitos, um para Israel e outro para as nações (cf. Dt 7.6 - 8; Ex 19.5).
Numerosos cristãos têm o mesmo pensamento. Sem perceber que se trata de propaganda dos interesses da política norte-americana, a "direita evangélica" sente fascinação com Israel e crê que tudo quanto Israel faz deve ser apoiado e aprovado porque Deus está com Israel. Há alguns que, negando o claro ensino do Novo Testamento que Deus "rejeitou o povo de Israel" substituindo-o pelo "novo Israel", dizem que a aliança entre Deus e o povo judeu é eterna. Outros dizem que, no fim dos tempos, o Senhor obrará a conversão e a salvação de todo o Israel natural. Há, todavia, alguns que adotam a idéia de que sempre existiu uma relação inseparável entre Deus e Israel, chegando à conclusão de que somente os gentios deveriam se reconciliar com Deus mediante Jesus Cristo. "Jesus então perguntou: Vocês não leram o que as Escrituras Sagradas dizem? 'A pedra que os construtores rejeitaram veio a ser a mais importante de todas. Isso foi feito pelo SENHOR e é uma coisa maravilhosa!' E Jesus terminou: Eu afirmo a vocês que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado para as pessoas que produzem os frutos do Reino." Mt 21.42 - 43 (cf. Mt 23.37 - 38).

A aliança abraámica não é garantia de que os judeus são, atualmente, o povo escolhido de Deus.

Do ponto de vista do SENHOR Deus, pertencer à linhagem carnal de Abraão não é fator determinante para herdar as bênçãos da descendência dele. "Porque vocês foram batizados para ficarem unidos com Cristo e assim se revestiram com as qualidades do próprio Cristo. Desse modo não existe diferença entre judeus e não-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus. E, já que vocês pertencem a Cristo, então são descendentes de Abraão e receberão aquilo que Deus prometeu." Gl 3.27 - 29 (cf. Jo 8.39).

Não existe salvação fora de Cristo.

Quando os apóstolos se viram confrontados com as autoridades do povo de Israel não duvidaram em testemunhar: "Jesus é aquele de quem as Escrituras Sagradas dizem: 'A pedra que vocês, os construtores, rejeitaram veio a ser a mais importante de todas.' A salvação só pode ser conseguida por meio dele. Pois não há no mundo inteiro nenhum outro que Deus tenha dado aos seres humanos, por meio do qual possamos ser salvos." At 4.11 - 12 (cf. Jo 14.6). Isso significa que, embora o povo judeu não desfrute mais do favor especial de Deus, existe a possibilidade para que os judeus individuais, assim como pessoas de todas as línguas, raças e nações, conheçam e se beneficiem da salvação em Cristo Jesus.
Os sacrifícios e leis da Velha Aliança mostram que o povo precisava de intercessão e perdão, porém eles não podiam operar a salvação eterna. Os profetas anunciaram que Deus, por meio do Messias, iria "terminar com o pecado e perdoar a iniqüidade" (cf. Is 53.1 - 12; Dn 9.24 - 27). Será que Deus poderia aceitar um povo que rejeitou, e ainda rejeita, o Salvador que Ele mesmo enviou?

Nem todos os judeus se converterão e alcançarão a salvação.

Quando Paulo diz que "todo o povo de Israel será salvo" devemos entender que está salvação se realiza não mediante a conversão de todos os judeus, mas pela "vinda" das nações. A confusão é causada, muitas vezes, porque algumas traduções vertem o versículo 26 assim: "E então, depois disso (hoútos), o restante de Israel será salvo." Todavia, a tradução mais adequada de hoútos é: "assim, desta forma, desta maneira, desse modo."
"Meus irmãos, quero que vocês conheçam uma verdade secreta para que não pensem que são muito sábios. A verdade é esta: a teimosia do povo de Israel não durará para sempre, mas somente até que o número completo dos não-judeus venha para Deus. É assim que todo o povo de Israel será salvo." Rm 11.25 - 26.
Outro ponto a ser considerado, para compreender o sentido exato, é o que Paulo escreveu precedentemente em Rm 2.28,29: "Portanto, eu pergunto: quem é judeu de fato e circuncidado de verdade? É claro que não é aquele que é judeu somente por fora e circuncidado só no corpo. Pelo contrário, o verdadeiro judeu é aquele que é judeu por dentro, aquele que tem o coração circuncidado; e isso é uma coisa que o Espírito de Deus faz e que a lei escrita não pode fazer." E, em Rm 9.6: "De fato, nem todos os israelitas fazem parte do povo de Deus."

Os acontecimentos atuais no Estado de Israel não são o cumprimento da profecia bíblica.

Lembramo-nos das palavras pronunciadas por um querido amigo, estudante do Seminário Rabínico Latino-Americano em Buenos Aires: "A esperança de Israel é ser restaurado pelo Messias. O atual Estado de Israel foi estabelecido pelos britânicos em 1948. A pergunta, então, é, são os britânicos, ou os norte-americanos, o Messias?" Os líderes do Estado de Israel não atribuem o seu estabelecimento a Deus, nem esperam nele para a sua sobrevivência, senão nos EUA e o seu poderio bélico.
O ideal profético é um reino de paz, onde será adorado o verdadeiro Deus, e onde as armas de guerra se tornarão instrumentos de trabalho. Mas a situação atual de Israel é completamente diferente; está submerso em constantes conflitos, no monte do Templo há uma mesquita muçulmana e, para sua estabilidade, dependem do poder militar e o apoio dos EUA. "No futuro, o monte do Templo do SENHOR será o mais alto de todos e ficará acima de todos os montes. Os povos de todas as nações irão correndo lá e dirão assim: 'Vamos subir o monte do SENHOR, vamos ao Templo do Deus de Israel. Ele nos ensinará o que devemos fazer, e nós andaremos nos seus caminhos. Pois os ensinamentos do SENHOR vêm de Jerusalém; do monte Sião ele fala com o seu povo.' Deus será juiz das nações, decidirá questões entre muitos povos. Eles transformarão as suas espadas em arados e as suas lanças, em foices. Nunca mais farão guerra, nem se prepararão para batalhas." Is 2.2 - 4.
A profecia diz que o SENHOR Deus restabeleceria o reino de Israel sob o reinado dum monarca da linhagem de Davi. O Estado de Israel é uma república. "Então diga-lhes que eu, o SENHOR Deus, tirarei os israelitas do meio das nações para onde foram. Eu os ajuntarei e os levarei de volta à sua própria terra. Farei deles uma só nação na sua terra, nas montanhas de Israel. Eles terão um só rei para governa-los." Ez 37.21,22.
Os acontecimentos no Israel contemporâneo devem ser encarados como o que realmente são, uma parte dos acontecimentos globais preditos nas Escrituras. Uma entidade política, estabelecida pelas superpotências para garantir o seu poder e domínio sobre aquela região, não pode ser tomada como o cumprimento das promessas do Altíssimo. O espírito que anima os atos do Estado de Israel inclui guerras, negação de Deus e amor ao dinheiro, todas coisas contrárias à lei do SENHOR!

As profecias sobre a restauração de Israel se cumpriram, e se cumprem, entre o "Israel de Deus", a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo.

Deus estabeleceu um novo e eterno pacto, por meio de Jesus Cristo, cumprindo assim a profecia de Jeremias 31.31 - 34. Esta nova aliança foi feita com os fieis discípulos de Jesus, não com o povo judeu. "Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue, derramado em favor de vocês." Lc 22.20 "Pois, se a primeira aliança tivesse sido perfeita, não seria necessária uma nova aliança. E, quando Deus fala da nova aliança, é porque ele já tornou velha a primeira. E o que está ficando velho e gasto vai desaparecer logo." Hb 8.7,13.
O "Israel de Deus" não está constituído pelos descendentes naturais de Abraão, antes, como Paulo declara em Gl 3.26 - 29, Deus constitui filhos e herdeiros de Abraão àqueles que pertencem a Cristo e são gerados pelo Espírito Santo. "Não faz nenhuma diferença se o homem é circuncidado ou não; o importante é que ele seja uma nova pessoa. E, para todos os que seguem essa regra na sua vida, que a paz e a misericórdia estejam com eles e com todo o povo (Israel) de Deus!" Gl 6.15,16.

Palavras finais.

A autoridade da doutrina e prática cristã é o Novo Testamento, sem tradições, sem concílios eclesiásticos, e sem misturas com a religião da antiga aliança.
Os verdadeiros cristãos magnificam o Novo Testamento como a sua autoridade, e se esforçam por reproduzir os seus ensinamentos. As doutrinas básicas que caracterizam a fé cristã novo-testamentária são:
- Separação do espírito do Mundo; sob a antiga aliança os interesses da religião estavam sempre ligados aos interesses do Estado, ao domínio e à ganância.
- Não-violência; sob o velho pacto o povo de Deus podia participar do governo, da guerra, e levar causas diante dos juizes seculares, mas o Senhor Jesus disse aos seus discípulos: "amem aos seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês." Mt 5.44 (cf. Mt 5.38 - 48).
- Simplicidade; a medida da aprovação de Deus, sob a antiga aliança, era a quantidade de riquezas que alguém acumulava, mas os verdadeiros cristãos têm os seus tesouros no céu: "Pois, onde estiverem as suas riquezas, ai estará o coração de vocês." Mt 6.21 (cf. Mt 6.24 - 34).
Nas palavras de Leonhard Schiemer: "Embora seja bom lermos nos [livros dos] profetas, nos [livros dos] reis, e em [os livros de] Moisés, não é absolutamente necessário [para a salvação]. Encontra-se tudo no Novo Testamento."

Fonte: http://www.teologiaclub.com

sábado, 16 de março de 2013

Um sacrifício com cheiro de intercessão



Gn 8.20-22

No princípio as expressões latentes da criatura eram comunhão e intimidade – sem música escrita nem orações formuladas – homem e mulher relacionavam-se com Deus. Após a queda, perderam acesso ao lugar de Deus para eles: O Éden- a contínua provisão, comunhão e intimidade. A humanidade dá início a um processo de corrupção da raça entristecendo o coração de Deus, que resolve “lavar” a terra com um dilúvio, separando para si a família de Noé.

40 dias e 40 noites de chuva. Um barco preparado e habitado por animais de todas as espécies e uma família. Cumprido o tempo, baixando as águas, Noé sai da arca com sua família e ergue um altar no qual oferece um holocausto ao Senhor com animais limpos. O cheiro agradável sobe às narinas de Deus, que declara: Não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem. Era um homem diante de Deus a favor dessa terra – um sacrifico com cheiro de intercessão. Nas primeiras ações intercessórias algumas essências são reveladas:

1-    Um holocausto - nesse tipo de sacrifício havia fogo contínuo. Assim como ontem, a intercessão hoje é uma obra de fogo contínuo. Requer coração quebrantado, tratado e aquecido pelo fogo do Espírito;
2-    Nesse sacrifico a oferta era totalmente consumida - Assim como ontem a intercessão hoje requer entrega total – rendição como sinal de confiança. Não há intercessão sem confiança em Deus e no Seu poder;
3-    Sacrifico como ação de graça - Foi assim que Noé fez. Assim como ontem, hoje a intercessão é um exercício de alargar as cordas da fé com base na experiência de reconhecimento da ação contínua de um Deus que trabalha enquanto descansamos;
4-    Enquanto durar a terra não deixará de haver sementeira - Assim como ontem, hoje a intercessão é uma obra de frutos visíveis, muitos frutos, frutos permanentes, que trazem a manifestação, no visível, da bênção da provisão.

Noé estava diante de um grande desafio: Recomeçar. Seu sacrifício era uma estratégia para cumprir essa obra. Isso foi agradável às narinas de Deus.
O cheiro de ontem se alastra até hoje e nos envolve numa atmosfera espiritual de recomeço.
Que o novo mês traga a sinalização do novo de Deus sobre nós, nossas famílias e ministérios.

Soraya de Lima Junker
Ministério Toque de Poder

quinta-feira, 14 de março de 2013

Escrito egípcio antigo descreve Jesus como mutante e diz que Pôncio Pilatos esteve na Santa Ceia




Um texto egípcio antigo, com mais de 1,2 mil anos, conta uma versão diferente de alguns fatos narrados pela Bíblia, e apresenta Jesus como alguém com capacidade de mudar de aparência, um mutante.
No texto, que só foi decifrado há pouco tempo, Jesus teria celebrado a Santa Ceia com a presença de Pôncio Pilatos, o governante que lavou as mãos e permitiu sua crucificação. Outro dado curioso do texto é que ele assegura que a celebração teria ocorrido na terça-feira, e não na quinta, como diz a tradição.
O pesquisador Roelof van den Broek, que publicou a tradução do texto no livro Pseudo-Cyril of Jerusalem on the Life and the Passion of Christ (em tradução livre, Pseudo Cirilo de Jerusalém sobre a Vida e a Paixão de Cristo) diz ser importante frisar que este relato não pode garantir que os fatos são exatamente estes, embora demonstre que existiram pessoas que acreditavam que essa era a versão correta.
De acordo com o LiveScience, atualmente, sabe-se da existência de duas cópias do mesmo texto, que foi escrito na linguagem copta, que era usada pelo povo egípcio durante o período helenístico e no tempo sob dominação romana. Uma das cópias está na Biblioteca e Museu Morgan em Nova York e a outra no Museu da Universidade da Pensilvânia.
Um trecho do documento relata o encontro secreto de Jesus com Pilatos: “Sem maior tumulto, Pilatos preparou a mesa e comeu com Jesus no quinto dia da semana. E Jesus abençoou Pilatos e toda a sua casa […] (depois, Pilatos disse a Jesus) bem, observe, a noite chegou, levante-se e bata em retirada, e quando a manhã chegar e eles me acusarem por sua causa, eu devo dar a eles o único filho que tenho para que eles possam matá-lo em seu lugar”.
O texto complementa afirmando que Jesus teria agradecido a Pilatos por sua boa vontade, mas recusado a oferta mostrando que teria outros meios para fugir da perseguição dos soldados.
O pesquisador que publicou o livro sobre o tema diz que na Igreja Copta e em outras igrejas da Etiópia, Pilatos é tido como um santo, o que explicaria a forma mais simpática com que ele é descrito nesse texto.
Sobre a mudança de características de Jesus, o texto egípcio diz que as pessoas o viam de formas diferentes: “Então os judeus disseram a Judas: como vamos prendê-lo (Jesus), pois ele não tem uma única forma, sua aparência muda. Às vezes ele é corado, às vezes ele é branco, às vezes ele é vermelho, às vezes ele tem cor de trigo, às vezes ele é pálido como um asceta, às vezes ele é um jovem, às vezes um velho…”. O pesquisador diz que essa descrição corrobora o conceito de que o beijo dado por Judas na face de Jesus teria sido uma forma de mostrar aos soldados quem era o alvo.
“Essa explicação do beijo de Judas foi encontrada primeiro em Orígenes [um teólogo que viveu de 185 a 254]“, explica o pesquisador, que menciona ainda que Orígenes registrou em uma de suas obras que “para aqueles que o viam, [Jesus] não aparecia da mesma forma para todos”.
O pesquisador Van den Broek ressalta ainda que “no Egito, a Bíblia já havia se tornado canônica no quarto/quinto século, mas histórias apócrifas e livros permaneceram populares entre cristão egípcios, especialmente entre monges”, o que daria margem às diversas versões da história.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+

domingo, 10 de março de 2013

O colapso de sua teologia: razão maior da renúncia de Bento XVI?




É sempre arriscado nomear um teólogo para a função de Papa. Ele pode fazer de sua teologia particular, a teologia universal da Igreja e impô-la a todo o mundo. Suspeito que esse foi o caso de Bento XVI, primeiramente enquanto Cardeal, nomeado Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé (ex-Inquisição) e depois Papa. Tal fato não goza de legitimidade  e se transforma em fonte de condenações injustas. Efetivamente condenou mais cem teólogos e teólogas  por não se enquadrarem em sua leitura teológica da Igreja e do mundo.        
Razões de saúde e o sentimento de impotência face à gravidade da crise na Igreja, o levaram a renunciar. Mas não só. No texto de sua renúncia dá conta da “diminuição  de vigor do corpo e do espírito”e de “sua incapacidade” de enfrentar as questões que dificultavam o exercício de sua missão. Por detrás desta formulação, estimo que se oculta a razão mais profunda de sua renúncia: a percepção do colapso de sua teologia e do fracasso do modelo de Igreja que quis implementar.  Uma monarquia absolutista não é tão absoluta a ponto de dobrar a inércia de envelhecidas estruturas curiais.
As teses centrais de sua teologia sempre foram problemáticas para a comunidade teológica. Três delas  acabaram refutadas pelos fatos: o conceito de Igreja como “pequeno mundo reconciliado”; a Cidade dos Homens só ganha valor diante de Deus passando pela mediação da Cidade de Deus; e o famoso “subsistit” que significa: só na Igreja Católica subsiste a  verdadeira Igreja de Cristo; todas as demais “igrejas’ não podem ser designadas igrejas. Esta compreensão estreita de uma inteligência aguda mas refém de si mesma, não tinha a força intrínseca suficiente e a adesão para ser implementada. Bento XVI teria reconhecido  o colapso e coerentemente renunciado?  Há razões para esta hipótese.
O Papa emérito teve em Santo Agostinho seu mestre e inspirarador, objeto aliás de algumas conversas pessoais com ele.  De Agostinho assumiu a perspectiva de base, começando com sua exdrúxula teoria do pecado original (se transmite pelo ato sexual da geração). Isso faz  com que  toda a humanidade seja uma “massa condenada”. Mas dentro dela, Deus por Cristo, instaurou uma célula salvadora, representada pela Igreja. Ela é “um pequeno mundo reconciliado” que tem a representação (Vertretung) do resto da humanidade perdida. Não é necessário que tenha muitos membros. Basta poucos, contanto que sejam puros e santos. Ratzinger incorporou esta visão. Completou-a com a seguinte reflexão: a Igreja é constituida por Cristo e os Doze Apóstolos. Por isso é apostólica. Ela é apenas este pequeno grupo. Desconsidera os discípulos, as mulheres e  as massas que seguiam Jesus. Para ele não contam. São atingidas pela representação (Vertretung) que “o pequeno mundo reconciliado” assume. Esse modelo eclesiológico não dá conta do vasto mundo globalizado. Quis então fazer da Europa “o mundo reconciliado” para reconquistar a humanidade. Fracassou porque o projeto não foi assumido por ninguém e até posto a ridículo.        
A segunda tese tirada também de Santo Agostinho é sua leitura da história: o confronto entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens. Na Cidade de Deus está a graça e a salvação: ela é o único pedágio que dá acesso à salvação. A Cidade dos Homens é construída pelo esforço humano. Mas como já é contaminado, todo o seu humanismo e demais valores,  não conseguem salvar porque porque não passaram pela mediação da Cidade de Deus (Igreja). Por isso que ela é eivada de relativismos. Consequentemente o Card. Ratzinger condena duramente a teologia da libertação porque esta buscava a libertação pelos pobres mesmos, feitos sujeitos autônomos de sua história. Mas como não se articula com a Cidade de Deus e sua célula, a Igreja,  é insuficiente e  vã.
A terceira é uma interpretação pessoal que dá do Concílio Vaticano II quando fala da Igreja de Cristo. A primeira elaboração conciliar dizia que a Igreja Católica é  a Igreja de Cristo. As discussões, visando o ecumenismo, substituíram o é pelo subsiste para dar lugar a que outras Igrejas cristãs, a seu modo, realizassem também a Igreja de Cristo. Essa interpretação sustentada na minha tese doutoral, mereceu uma explícita condenação do Card.Ratzinger no seu famoso documento Dominus Jesus (2000). Afirma que susbsiste vem de “subsistência” que só pode ser uma e se dá na Igreja Católica. As demais “igrejas” possuem “somente” elementos eclesiais. Esse “somente” é um acréscimo arbitrário que fez ao texto oficial do Concílio.  Tanto eu quanto outros notáveis teólogos mostramos que este sentido essencialista não existe no latim. O sentido é sempre concreto: “ganhar corpo”, “realizar-se objetivamente”. Esse era o “sensus Patrum” o sentido dos Padres conciliares.
Estas três teses centrais foram refutadas pelos fatos: dentro do “pequeno mundo reconciliado” há demasiados pedófilos até entre cardeais e ladrões de dinheiros do Banco Vaticano. A segunda, de que a Cidade dos Homens não tem densidade salvadora diante de Deus, labora num equívoco ao restringir a ação da Cidade de Deus apenas ao campo da Igreja. Dentro da Cidade dos Homens, se encontra também a Cidade de Deus, não sob a forma de consciência religiosa mas sob a forma de ética e de valores humanitários. O Concílio Vaticano II garantiu a autonomia das realidades terrestres (outro nome para secularização) que tem valor independentemente da Igreja. Contam para Deus. A Cidade de Deus (Igreja) se realiza pela fé explícita, pela celebração e pelos sacramentos. A Cidade dos Homens pela ética e pela política.
A terceira de que somente a Igreja Católica é a única e exclusiva Igreja de Cristo e ainda mais, que fora dela não há salvação, tese medieval ressuscitada pelo Card. Ratzinger, foi simplesmente ignorada como ofensiva às demais Igrejas. Ao invés do “fora da Igreja não há salvação” se introduziu no discurso dos Papas e dos teólogos “o universal oferecimento da salvação a todos os seres humanos e ao mundo”.
Nutro a séria suspeita de que, tal fracasso e colapso de seu edifício teológico, lhe tirou “o necessário vigor do corpo e do espírito” a ponto de, como confessa “sentir incapacidade” de exercer seu ministério. Cativo de sua própria teologia, não lhe restou outra alternativa senão honestamente renunciar.

Fonte:http://leonardoboff.wordpress.com

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Reflexões bíblicas sobre a quaresma e a Páscoa




Propomos aqui um estudo diferenciado, entre os muitos disponíveis nos livros e revistas. Ele tem duas linhas de apresentação. Primeiramente, vamos falar sobre a base histórica da Quaresma e da Páscoa que a Bíblia apresenta. Em segundo lugar, apresentaremos alguns elementos do amplo e variado campo semântico da teologia da Quaresma e da Páscoa. Foram escolhidas, aqui, algumas palavras que são estreitamente relacionadas à celebração da Páscoa desde o Antigo Testamento até o Novo Testamento. O objetivo deste estudo é equipar o seu estudo bíblico para esses dois períodos litúrgicos, bem como enriquecer a sua prática pastoral.

Contexto histórico


Embora seja certo que a ciência e a fé devam andar de mãos dadas, é preciso afirmar que estas duas grandezas possuem diferentes campos de atuação. A ciência trabalha com a racionalidade e a fé gira em torno da revelação de Deus na história. Assim, o/a estudante da Bíblia deve ler a Escritura Sagrada com os olhos da razão e da fé, sem receio de ser impedido/a de compreendê-la.
Israel se constituiu, como povo, em meio ao desmantelamento do período do Bronze e a chegada do Ferro, no Antigo Oriente Médio (século XIII a.C.). O povo, mais tarde chamado Israel, teve sua origem entre os grupos de pastores semi-nômades. As figuras que fazem parte da pré-história dos israelitas - Abraão, Isaac. Jacó, Moisés, entre muitos outros - foram pastores que viveram na periferia, isto é, nas estepes da terra de Canaã. Aqui, faz-se necessário uma explicação: Israel não é nômade, pois não faz uso de camelos, mas ele é semi-nômade, pois vive da criação de carneiros e ovelhas.
Israel teve sua origem na Mesopotâmia, via Harã e Aram. A tradição dos patriarcas é transmigrante, isto é, viajavam muito, mas permaneciam por algum tempo nas regiões visitadas. É difícil saber a razão dessa cultura da transmigração. Seria a busca de uma solução para a vida dura e difícil? Seria a esperança de dias melhores? A teologia bíblica sugere que isso faz parte dos mistérios da fé.
Após a chegada em Canaã, a família de Abraão foi viver na periferia das terras férteis daquela região, já naquela época extremamente cobiçada pelos povos vizinhos. A clã de Abraão não foi viver com os proprietários das terras agrícolas, mas nas regiões montanhosas que circundavam a parte fértil, criando carneiros e ovelhas. Os patriarcas viveram na instabilidade própria das estepes. De um lado, eles mostravam-se frágeis, mas na verdade eles tinham uma economia bastante estável. Não pagavam tributos aos proprietários da terra, já que as estepes não tinham valor econômico para a agricultura. Além disso, os patriarcas tinham liberdade para migrar continuamente. Eles sentiam-se livres para viver. Todavia, a liberdade e o direito de ir e vir não era total: primeiro, eles eram impedidos de viverem nas regiões agrícolas, pertencentes aos cananeus; segundo, eles precisavam de água fornecida pelos poços. Como eles viviam em áreas semi-desérticas, o poço de água era uma raridade. O poço de água constituía-se algo de grande valor para a sobrevivência dos semi-nômades e os seus rebanhos.
Dentre os costumes dos pastores semi-nômades, a Bíblia preservou uma celebração: a Páscoa. Trata-se de uma cerimônia celebrada todos os anos no mesmo período. Ela é conhecida como a cerimônia da passagem da estação da Primavera para o Verão. A razão dessa celebração está nas leis da natureza. É possível viver e cuidar do rebanho, na região das estepes, durante o Outono, Inverno e Primavera. Contudo, não é possível suportar o calor do sol de Verão que queima a pouca pastagem do semi-deserto. Daí, os pastores que vivem nessas regiões são obrigados a migrarem-se para outros lugares em busca de água e alimento. O momento crítico é o da saída. Quando os sinais da chegada do Verão se faziam presentes, numa noite, os pastores celebravam a saída, em busca de outras paragens provisórias para o sustento da vida dos familiares e os seus rebanhos. É a saída para a vida. A cerimônia principal incluía o sacrifício de uma ovelha para que ela servisse de alimento para toda a família.
Quando os pastores semi-nômades, do êxodo, alcançaram a terra de Canaã e agregaram-se aos agricultores cananeus, a celebração da Páscoa ampliou com alguns elementos agrícolas da Festa dos Pães Àzimos ou Asmos.

Por que a ausência de fermento no pão?
Primeiramente, o povo bíblico procurou explicar o motivo através da história, chamando-o "pão da pressa". Entre as mais primitivas prescrições da Páscoa está recomendado que essa refeição deve ser feita "às pressas" (Ex 12.11-12), porque foi no inesperado da calada da noite que os escravos hebreus saíram do Egito.
Em segundo lugar, a ausência de fermento no pão tem a ver com a renovação da vida. Não se pode misturar o antigo com o novo. Precisa-se criar um novo fermento que dará o sentido para a nova vida, agora, em liberdade, na terra de Javé.
A celebração da Páscoa, ao longo dos séculos, antes de Cristo, sofreu algumas alterações de caráter secundário (comparar Ex 12.1-14; 21-28; 43-51; Dt 16.1-8). Contudo, a Páscoa nunca modificou o seu sentido de memória dos grandes atos de Deus em favor do Povo, a fim de que esse gesto possa renovar a esperança daqueles/as que estão oprimidos/as. É com essa finalidade que Jesus reuniu os seus apóstolos em torno de uma mesa para uma derradeira refeição. A frase que ficou na memória deles foi: "Fazei isso em memória de mim" (Lc 22.14-20).


Contexto semântico


O campo semântico dos temas "Quaresma e Páscoa" é vasto. Escolhemos algumas palavras para analisar, no âmbito do Antigo e do Novo Testamentos.

A) SALVAR

Salvar é um verbo central na Bíblia. A língua hebraica possui muitos verbos que ajudam a mostrar diversidade e a riqueza de significado que salvar possui no contexto bíblico. O verbo salvar tem muitos sinônimos: yasa' = salvar (Êx 1430), ga´al = redimir (Êx 6.6; Os 13.14), padah = resgatar (Êx 13.13, 15; Os 13.14), ´azar= socorrer (Js 10.6), nasal = livrar, libertar (Sl 59.2), palat = salvar (Sl 37.40). Certamente, este o quadro de palavras sinônimas mostra o grande interesse e importância que o tema salvar desempenha dentro do ensino bíblico. Todavia, o verbo yasa´ e seus derivados - hosya´ = ele salva; yesu' = salvação; mosia´= salvador - constituem-se os termos soteriológicos mais usados Biblia. É que yasa' é o verbo usado quando Javé ou o seu Ungido são referidos. Por essa razão, o seu uso não é comum fora do âmbito religioso e teológico.
O conceito "salvar", no Antigo Testamento, possui uma interessante peculiaridade. "Salvar" não carrega uma reflexão poética ou mitológica, mas tão somente um testemunho histórico da ação de Deus em favor dos homens e mulheres, enfim, do mundo. Assim, o ato salvífico de Javé é mostrado, na Bíblia, de forma bastante concreta. O povo sofrido lamenta e clama pela ajuda de Deus (Ex 3.7-22) que, em atenção a essa súplica, providencia toda sorte de auxílio: envia a resposta (Sl 20.6), liberta (Sl 71.2), abençoa (Sl 28.9), salva (Sl 37.40), faz justiça (Sl 54.1), protege (Sl 86.2) e redime (Sl 106.1) o povo que queixa. Assim, a Bíblia vê Javé como aquele que age e produz salvação no meio do povo (Sl 12.5). Por isso, Ele é designado como aquele que realiza atos salvíficos em toda a terra (Sl 74.12).
Salvador é um dos títulos mais usados no Antigo Testamento para designar Javé. O povo bíblico confessará que Javé o havia salvado (Is 17.10; 43.3; 51. 24.25). O nome do grande líder Josué afirma que "Javé é Salvador". O nome de Jesus tem esse mesmo significado (Lc 1.47)

B) DESERTO

No Antigo Testamento
A palavra deserto possui uma forte concentração de significado teológico em toda a Bíblia. Para entender o seu sentido é preciso partir do seu conceito geográfico. O deserto é, primeiramente, descrito como um lugar terrível (Dt 1.19), de estepes e barrancos, seco e escuro que ninguém atravessa e habita (Jr 2.6) e, também, ermo e solitário (Ez 6.14). Apesar dessas conotações negativas, a história salvífica de Javé teve como palco principal o deserto.
A memória do ato libertador de Javé tem o deserto como seu cenário central. A história bíblica narra que o povo israelita, sob a liderança de Moisés, caminhou por quarenta anos no deserto até chegar à Canaã, a terra que mana leite e mel (Êx 3.8). Os profetas disseram que esse foi o tempo mais fértil e significativo da história do povo bíblico (Os 2.14; 13.5-6), e a celebração da Páscoa inclui, na sua liturgia, a dramatização dos eventos do deserto (Êx 12.1-14; Dt 16.1-8).
Foi no deserto que os/as escravos/as aprenderam a viver comunitariamente e obedecer ao seu Deus. Além disso, foi no deserto que esse grupo reconheceu que não podia viver de modo egoísta e individualista, mas foi nesse austero espaço que os hebreus renderam desfrutar, de modo comunitário, da graça de Deus. Portanto, deserto é lugar de desolação, mas também da companhia de Deus (Êx 13.21); é o lugar sem fertilidade, mas foi o tempo pleno da palavra e da graça de Deus (Jr 22). No deserto, o peregrino olha para o alto e somente vê o sol escaldante; olha para os lados e somente vê areia quente. A sua única esperança é confiar em Deus. Esta, certamente, foi a experiência daquele bando escravos e escravas libertado por Deus, no Egito. Foi a partir dessa experiência que o profeta Oséias falou pedagogicamente ao povo esquecido e, conseqüentemente, desobediente, durante os dias do Reino de Israel - "Eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração" (2.14).

Novo Testamento
Na tradição pascal veterotestamentária, a celebração da Páscoa precedia o deserto. Na tradição sinótica, o deserto precede a Páscoa. O deserto marcou o início do ministério de Jesus, além de aparecer em algumas vezes história do ministério. Após o batismo, Jesus retirou-se ao deserto onde jejuou, orou e foi tentado. No deserto, após vencer a tentação, Ele foi servido pelos anjos. Deste modo, o deserto é lugar de provação e de providência divina. Diferentemente do povo de Deus na história da peregrinação no deserto, Jesus venceu, a provação e manteve-se fiel a Deus. Por isso, ele não experimentaria a morte às portas da terra prometida, como aconteceu com Moisés. Assim, junta-se deserto e ressurreição na história de Cristo, unindo batismo e eucaristia em um mesmo movimento. Batismo e deserto marcam o início do ministério de Jesus, enquanto a eucaristia e a ressurreição marcam o final.
A partir daí, a Igreja Cristã - como, por exemplo, as comunidades do Apocalipse - enxergam a sua provação como o deserto, onde as águas do dragão tentam engolir a comunidade (a provação) e o deserto engole a água (providência).


C) O NÚMER0 40

No Antigo Testamento
O povo tem tentado entender o significado dos números, porém é, provavelmente, impossível chegar a uma explicação plena e completa. Cada povo constrói uma simbologia muito própria. Portanto, não é possível explicar o significado hebraico do número 40, tomando por base o sentido egípcio ou cananeu.
O número 40, entre os israelitas, certamente, possui um significado teológico que tem sua origem na própria história do povo. É necessário lembrar que os ensinos, hinos, liturgias, ou outra expressão de comunicação, contidos na Bíblia, deverão ser vistas à luz da experiência histórica do povo. Assim deve ser visto o significado do número 40.
No Antigo Testamento, o número 40 ocorre muitas vezes relacionado a momentos significativos da história bíblica. Entre tantas ocorrências, quatro são destaques no Antigo Testamento: o período do dilúvio foi de 40 dias (Gn 7.4); os hebreus caminharam 40 anos pelos desertos até atingir Canaã (Js 5,6); a duração do bom reinado de Davi foi de 40 anos (2Sm 5.4); Elias caminhou 40 dias para encontrar com Deus no Sinai (lRs 19.8). Estas quatro ocorrências estão ligadas a eventos fundantes e significativos na história bíblica do Antigo Testamento. Não deveríamos entender o número 40 como um múltiplo de quatro? O número 4, provavelmente, tem a ver com os quatro pontos cardeais dos quais vêm os quatro ventos que abastecem a terra de oxigênio. O relato da Criação afirma que quatro rios irrigam toda a terra (Gn 2.10-12). Não estaríamos diante do símbolo da intervenção divina que renova a vida e a esperança no mundo? Por tudo isso que foi falado, acima, provavelmente, o número 40 sinaliza o início de um novo período de atividade de Deus.

No Novo Testamento
No NT, o simbolismo do número 40 continua. Por exemplo, Jesus recolhe-se no deserto por 40 dias e 40 noites (Mt 4.3; Mc 1.1; Lc 4.2). Uma outra ocorrência significativa, na vida e obra de Jesus, é mencionada por Atos dos Apóstolos: Jesus, após a ressurreição, permaneceu na terra 40 dias (At 1.3). Certamente, o número 40 lembra a difícil, mas significativa caminhada do povo de Israel no deserto.


D) PÁSCOA

No Antigo Testamento
O nome na Bíblia não é um simples rótulo que se coloca em uma pessoa ou acontecimento para torná-lo mais atraente. O nome representa a realidade profunda do ser que o conduz. Assim é a Páscoa. A palavra páscoa vem do hebraico pesah cujo significado é salto, movimento, caminhada, travessia. O nome pesah está estreitamente ligado à história dos acontecimentos que antecederam a saída dos/as escravos/as hebreus e hebréias, do Egito (Êx 12.11, 21, 27, 43, 48; 34.25), em direção à liberdade e à vida plena, em Canaã.
O termo pesah = salto, travessia, é histórico, mas ganha sentido teológico por várias razões: Deus passou ao largo das portas das casas dos/as escravos/as hebreus e hebréias, pintadas com sangue de carneiro sacrificado, e assim, livrando os filhos primogênitos da morte (Êx 12.12-13, 23); Deus fez com que esse grupo de escravos/as atravessassem os desertos para ganhar a liberdade na terra da promessa, Canaã. Por fim, Deus fez os hebreus e hebréias saltarem da escravidão para a liberdade, da angústia para o prazer de viver e da morte para a vida.
Todos esses motivos históricos levaram os descendentes desses/as escravos/as a organizarem uma celebração cúltica onde a ênfase seria lembrar os grandes atos salvíficos de Deus, em favor de seus pais que eram escravos/as no Egito. Assim, a partir da chegada a Canaã, os/as descendentes desses/as escravos/as passaram a celebrar, uma vez por a o, esse grande salto, dos hebreus, para ganhatem a liberdade. Naturalmente que o nome dessa celebração veio a ser pesah, isto é, páscoa. É suposto que, a partir da chegada em Canaã, fim do século XIII a.C., o povo hebreu celebrou a Páscoa, cuja finalidade primordial é ensinar as futuras gerações que Deus liberta e oferece vida plena a todos/as. Assim, quem celebra a Páscoa aprende que Deus não admite escravidão.

No Novo Testamento
A festa da Páscoa, no cristianismo, é um dos elementos que anuncia a origem judaica da fé cristã. É importante nesse caminho perceber que na celebração da Festa da Páscoa judaica o drama fundante da fé cristã se insere de forma decisiva.
Jesus, na condução da refeição pascal, anunciou o memorial que identificaria as reuniões dos futuros seguidores de seu movimento. A partir da páscoa judaica - providência divina e libertação - o cristianismo anuncia a redenção e a ressurreição. Embora pareçam distintos, esses termos têm profundas ligações com o sentido veterotestamentário.
A morte de Jesus, em meio às celebrações pascais, representou a vitória aparente das forças da morte. Os poderes instituídos venceram o Ungido de Deus. Contudo, a ressurreição é a resposta de Deus que anuncia a vitória definitiva da vida. Com isso, a ressurreição de Cristo representa a providência divina que salva o Ungido e o liberta, desta vez, da força da morte.
Deste modo, a Páscoa cristã relê a concepção judaica antiga, ampliando o campo da libertação para a libertação da morte. Com isso, o sentido de ressurreição do indivíduo - novidade no pensamento judaico - junta-se ao conceito de Páscoa definindo os contornos da fé cristã.

E) MEMÓRIA

No Antigo Testamento
No Antigo Testamento, encontramos dois verbos importantes para a compreensão do significado de celebração e culto: lembrar e esquecer. Evidentemente que lembrar é mais importante que esquecer. Na língua hebraica, lembrar é zakar. A ordem de Moisés aos escravos hebreus, no Egito, explica bem o valor de zakar = lembrar para aquele povo em formação: "Lembrai-vos deste mesmo dia, em que saíste do Egito, da casa da servidão; pois com mão forte Javé vos tirou de lá..." (Êx 13.3). Por outro do, xakah = esquecer possui o significado de apagar da memória tudo o que Deus fez em favor do ser humano e do mundo. Assim, a recomendação de Moisés transformou-se na mente que deu motivo e razão a toda festa ou celebração comunitária. Por isso a recomendação bíblica é enfática e urgente: "Lembrai-vos e não vos esqueçais" (Dt 9.7).
No Antigo Testamento, os verbos lembrar e esquecer estão muito relacionados à atuação de Deus mundo. Assim, não é encontrada indicação bíblica para que o povo lembre e celebre a data de aniversário de algum líder do povo. A recomendação bíblica é para que o povo lembre, primeiramente, dos atos salvíficos de Deus em favor de homens e mulheres ao longo da história. Ao mesmo tempo, a necessidade de uma ordem na comunidade fez com que os Líderes apelassem para que povo lembrasse dos mandamentos divinos.
A importância de lembrar é, na Bíblia, tão grande e fundamental para a existência da humanidade do povo bíblico que legisladores (Nm 15.39), historiadores (Dt 6.5-9; 26.20-24), sacerdotes (Sl 136), profetas (Jr 2.2; Mq 6.1-5), sábios (Ec 12.1) recomendavam ao povo a guardar na memória, bem como celebrar, os favores de Deus. Para a Bíblia, zakar = lembrar é criar, construir e lançar as bases de um povo, enquanto que esquecer é o mesmo que destruir e fazer morrer a esperança.

No Novo Testamento
A memória é a base da sobrevivência do povo judeu. Começando pela lembrança da criação e a conseqüente manutenção da vida por Deus, passando pelos atos do passado, que confirmam a ação de Deus em favor de seu povo e garantem o futuro escatológico, chega, inclusive, até a perpetuação do nome.
O verbo relembrar aparece poucas vezes no Novo Testamento, sendo que, nestas poucas vezes há uma maior concentração em textos litúrgicos, de modo especial nos textos eucarísticos, isto é, ligados à Celebração da Ceia do Senhor. Paulo usa esse verbo quando ele quer chamar a atenção da comunidade de Corinto sobre a tradição eucarística que ele recebeu (l Co 11.24). Na maioria dos casos, o uso do verbo está associado ao contexto veterotestamentário do relembrar para não morrer. Tanto que, mesmo no uso negativo do verbo que o livro de Hebreus faz, há diálogo com a tradição do AT. Para Hebreus (10.3), o relembrar da tradição mantém viva a consciência do pecado. Deste modo, para a epístola, o sacrifício de Jesus supera esse relembrar constante.
A tradição veterotestamentária fecunda os poucos textos do Novo Testamento, onde a maior parte aponta para a importância do memorial pascal e da própria pessoa de Cristo e se tornam em sinalização presente dos atos salvíficos de Deus. A pessoa de Cristo e o Espírito Santo se tornam em atualização constante da memória salvífica.


F) OVELHA, CARNEIRO

No Antigo Testamento
Entre os elementos da refeição pascal, a carne animal é, no Antigo Testamento, a mais constante, em todas as prescrições. O animal que fornece a carne para o sacrifício pascal é o kebes ou keseb cordeiro macho. A literatura do Antigo Testamento mostra que esse anima era muito querido pelo povo bíblico, por várias razões: (a) o kebes = carneiro era considerado o animal doméstico mais popular, por Israel e os povos vizinhos; (b) em Israel era proibido castra-lo ou mesmo adquiri-lo estéril de outros povo: (Lv 22.24-25); (c) não é por acaso que a legislação determinava o carneiro como animal mais desejado para o sacrifício (Êx 125); (d) ele é usado metaforicamente para exaltar a afetividade entre o ser humano e o animal (2Sm 12,3) que dá força coragem ao pastor para defendê-la do perigo (l Sm 17.34; Ez 34.1-31). Por essas razões, Israel era comparado a uma ovelha desgarrada (Sl 119.176). Contudo, o exemplo mais claro encontra-se no 4º canto do Servo de Javé (Is 52.13-53.12), quando, numa riquíssima metáfora, o povo exilado na Babilônia é comparado a uma inocente ovelha (Is 53.7).
A razão do grande carinho do povo bíblico pelo carneiro ou a ovelha tem um motivo histórico. Inicialmente, Israel foi um povo das estepes que circundavam as cobiçadas regiões agrícolas; após a chegada a Canaã, o povo bíblico alcançou as montanhas da Palestina (Jz 1.19, 27-29), e somente, mais tarde, é que eles conquistaram as planícies, tornando-se agricultores. Assim, o carneiro e a ovelha fizeram parte da história do povo bíblico nas duas primeiras fases de sua vida. Além de alimentar e proteger o povo do frio, esse animal era o símbolo da mansidão.

No Novo Testamento
O Novo Testamento usa o termo cordeiro poucas vezes. A partir da tradução da Bíblia Hebraica para o grego, (Septuaginta), há uma distinção entre a ovelha (próbaton) e cordeiro (amnós). Amnós designava o cordeiro de um ano. Essa condição era requerida para o sacrifício expiatório da tradição veterotestamentária. O cristianismo em seus escritos canônicos usa a figura do cordeiro para explicar a morte de Jesus. Ele aparece como o cordeiro que redime todo o povo (Jo 1.29-34; I Pd 1.19).
Com isso, o escândalo da cruz ganha um sentido teológico de expiação do pecado. Jesus, com sua morte, assumiu o papel de cordeiro que, mediante o sangue, expia o pecado. Esse sentido vicário surge como uma releitura do impacto negativo que a cruz causou na comunidade (que Paulo define com o termo escândalo).

G) REFEIÇÃO PASCAL

No Antigo Testamento
As prescrições para a refeição pascal não são uniformes e fáceis de compreendê-las na ordem cronológica. Todavia, tomemos uma das reportagens encontradas no Antigo Testamento (Êx 12.1-14) para esboçar a qualidade da refeição pascal.
Provavelmente, este texto contém alguns elementos primitivos dessa celebração. Primeiro, o sacrifício da ovelha deveria ser realizado no crepúsculo do dia 14 do 1º mês do ano. Segundo, o animal a ser sacrificado deveria estar escolhido e separado a partir do dia 10. Terceiro, a oferta deveria ser comida por todos os membros da família, bem como dos vizinhos e amigos convidados. Quarto, o animal deveria ser escolhido do rebanho jovem de carneiro, não devendo apresentar qualquer defeito ou mancha. Quinto, o sangue do carneiro deveria ser passado nas portas e nas travessas das casas. Sexto, a carne do carneiro sacrificado deverá ser assada no fogo e comida, à noite, acompanhada de pães ázimos e ervas amargas. Sétimo, era proibido comer carne crua ou cozida na água, bem como algumas partes do animal, como a cabeça, as vísceras e as pernas. Oitavo, toda a refeição prescrita deveria ser comida apressadamente, numa atmosfera de dramatização, isto é, com lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. Nono, as ofertas deveriam ser comidas dentro da casa, até o alvorecer. O que restasse dessa refeição deveria ser totalmente queimada.
De tudo o que foi esboçado, a partir do relato de Êxodo 12.1-14, algumas conclusões ficam salientes: (1) essa liturgia pascal quer destacar a importância da família para a sobrevivência futura do povo bíblico; (2) o valor da mesa de refeição não é somente para o alimento físico, mas também serve para o fortalecimento dos laços comunitários e com Deus; (3) essa reunião destinava-se manter viva a memória de libertação do povo, através da dramatização dos fatos ocorridos durante o processo de fuga da escravidão egípcia.

No Novo Testamento
A refeição comunitária é um dos elementos importantes na fé israelita. Na fé veterotestamentária, ela define etnia e família. Por isso, era uma questão complicada para um judeu a refeição com um não judeu. O cristianismo conservou esse elemento importante da fé cristã, mas dando-lhe um sentido mais amplo, onde a refeição definia o povo de Deus, que não era retratado nem sanguineamente e nem geograficamente, mas sim pelo conceito da confissão de fé (aqueles que fazem a vontade de meu Pai).
Nos eventos pascais que marcaram a paixão de Cristo, a refeição inicia e conclui o drama. Antes da prisão, Jesus come a refeição pascal com seus discípulos e institui o memorial da Páscoa. Após a ressurreição, Jesus revive a refeição pascal, comendo com os discípulos (Lc 24,30ss; Mc 16.14).


H) RESSURREIÇÃO

O conceito de ressurreição é um conceito muito tardio na fé judaica. Alguns profetas anunciaram a ressurreição do povo como uma expectativa de redenção do povo. A ressurreição do indivíduo só vai aparecer no pensamento judaico a partir do 2º século a.C. É uma das expectativas importantes que irá fecundar o pensamento apocalíptico, que surge nesse período. Deste modo, soma-se a ressurreição dois outros importantes temas teológicos: fé em um mundo vindouro, que significaria a intervenção definitiva de Deus na história humana e o julgamento escatológico, onde os bons serão punidos e os injustos serão condenados.
No conceito de ressurreição, mais do que a vitória definitiva da vida sobre a morte, aparece o conceito da justiça divina que será exercida no momento da implementação definitiva do Reino de Deus (Reino da Justiça). É comum nos extratos mais antigos do Novo Testamento o uso do verbo levantar (egeiro) no passivo, demonstrando com isso a ação divina na salvação de Jesus da morte. Este sentido é, também, aplicado a comunidade cristã a qual participa da morte e, conseqüentemente, da ressurreição de Jesus.


I) JEJUM

Jejum - na língua hebraica sum - é a abstenção de alimento por um espaço de tempo. O jejum era um elemento da prática religiosa israelita. Todavia, ele era também praticado por pessoas de muitas religiões antigas. No Antigo Testamento, o jejum tem alguns objetivos:
  1. ele sinaliza o pesar de alguém, em vista do falecimento de um ente querido (lSm 31.13; 2 Sm 1.12; 3.35) ou de um desastre nacional (Ne 1.4);
  2. ele mostra o sentimento de arrependimento de alguém, por um gesto indevido. Essa atitude de arrependimento caracteriza-se como um gesto de auto-humilhação (Ne 9.1-3; Jr 14.12; Jl 1.14; S1 35.13-14);
  3. o jejum é um exercício de fé destinado a chamar a atenção de Deus, em vista de um perigo iminente (2Sm 12.16-25; Jr 36.9; Jn 3,5);
  4. o jejum acontece quando alguém tem que tomar uma decisão difícil ou iniciar uma missão importante e espinhosa (Et 4.16). A prática do jejum não teve, na Bíblia, aprovação unânime do povo. Alguns profetas criticaram a prática do jejum, porque ele tinha se tornado um rito meramente externo sem sentimento interior (Is 58.1-14; Jr 14,2; Zc 7.1-7). Após a destruição de Jerusalém (587 a.C.) e o exílio na Babilônia, houve uma enorme valorização da prática do jejum.

No Novo Testamento, o jejum é pouco citado, provavelmente em razão da excessiva valorização dada pelos fariseus. Jesus mostrou-se indiferente quanto ao jejum (Mt 6.16-18; Mc 2.18-20), mas não o excluiu (Mt 4.1-11). Antes, sugere que ele seja praticado às ocultas, em casa, para que ele não se torne um meio de promoção pessoal. A Igreja Primitiva adotou o jejum (At 13.2-3; 14.23) como preparação para a escolha de seus líderes, mas nas cartas dos apóstolos, o jejum não é mencionado.

*Estudo produzido pelos profs. da FaTeo Tércio Machado Siqueira, professor de Antigo Testamento, e Paulo Roberto Garcia, professor de Novo Testamento

*Outro texto sobre a Quaresma http://mestresteologiaedebates.blogspot.com.br/2012/02/quaresma-viagem-para-pascoa.html

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Eu estou indo para sempre!!!




Em 23 de agosto de 1683 - um dia antes de morrer - John Owen (Um gigante na história da igreja)  ditou uma carta final para seu amigo Charles Fleetwood. Parte dela diz:


"Eu estou indo para Ele a quem a minha alma tem amado, ou melhor, que me amou com um amor eterno, que é todo fundamento de toda minha consolação. A passagem é muito cansativa e sofrida, através de fortes dores de vários tipos que são acompanhadas de uma febre intermitente. . . Eu estou deixando o navio da igreja em uma tempestade, mas enquanto o grande piloto está nele a perda de um pobre remador será desprezível."


Apesar de ser um dos maiores nomes na história da igreja neste mundo, John Owen entendeu, como todos devemos entender, que depois de vivermos totalmente para Deus aqui, devemos partir em paz sabendo que é Deus quem edifica e guarda sua igreja e não nós. Somos apenas pobres remadores. O capitão levará o barco até o porto: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não poderão vencê-la.” - Mateus 16:18 – Ele edifica e garante a entrada de cada santo, cada homem regenerado que compõe a Sua igreja, na glória: “Àquele que é poderoso para impedi-los de cair e para apresentá-los diante da sua glória sem mácula e com grande alegria, ao único Deus, nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre! Amém.” - Judas 1:24-25


Somos apenas remadores, talvez não como John Owen foi, mas ainda assim remadores. Remem enquanto esse é o tempo determinado para nós fazermos isso. Depois Ele nos receberá na glória e continuará edificando Sua igreja.


Fonte:http://www.josemarbessa.com

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Papa Bento XVI pede “verdadeira renovação” da Igreja Católica, “desfigurada” por sucessão de “escândalos”



Na primeira missa após o anúncio de sua renúncia, o Papa Bento XVI afirmou que a Igreja Católica “está desfigurada” por “divisões em seu corpo eclesiástico”.

As declarações de Bento XVI na celebração de ontem, 13/02, foram vistas como pistas dos motivos pessoais, e não admitidos publicamente pelo Papa, que o levaram à decisão histórica de abrir mão do pontificado.

Antes do início da missa de cinzas, o Papa afirmou que sua opção pela renúncia foi feita “em plena liberdade, pelo bem da Igreja”. Já no discurso durante a missa, voltou a criticar as disputas políticas que geram escândalos: “Jesus denunciou a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, a atitude que busca aplauso e aprovação”, observou.

E falou indiretamente sobre sua opção pela renúncia ao afirmar que poucos se dispõe a lutar contra o mal: “Mesmo nos nossos dias, muitos estão prontos para rasgar as vestes diante de escândalos e injustiças, naturalmente cometidas por outros, mas poucos parecem disponíveis para agir sobre seu próprio coração, sua própria consciência e suas próprias intenções”.

Hoje, 14/02, durante uma reunião com o clero, Bento XVI pediu uma “verdadeira renovação” da Igreja Católica: “Temos que trabalhar para que se realize verdadeiramente o Concílio Vaticano II e se renove a Igreja”, pontuou, em sua última reunião com os Sacerdotes de Roma antes de sua renúncia.

Após  a reunião, Bento XVI afirmou que pretende se isolar após entregar o pontificado: “Mesmo me retirando para rezar, estarei sempre perto de todos vocês e tenho certeza que vocês estarão perto de mim, mesmo se eu permanecer escondido do mundo”, disse, segundo informações do G1.

Por Tiago Chagas, para o Gospel+

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Papa Bento XVI anuncia renúncia ao pontificado




"Pope Benedict XVI to resign: His announcement"
washingtonpost.com

Tradução de João Cruzué

"Caros Irmãos,

Eu os convoquei para este Consistório, não apenas para as três canonizações, mas também para comunica-los uma decisão de grande importância para a vida  da Igreja. Depois de ter repetidamente examinado minha consciência diante de Deus, eu cheguei à certeza de que minhas forças, devido a uma idade avançada, não são mais adequadas para o exercício do ministério pedrino.

Eu estou bem consciente que este ministério, devido  sua natureza ser  essencialmente espiritual,  deve ser levado avante  não apenas com palavras e feitos, senão com orações e sofrimento.  Entretanto, no mundo atual, sujeito a tantas e rápidas mudanças e  sacudido por questões de profunda relevância para  a vida e fé, para governar a  barca de São Pedro e proclamar o Evangelho,  tanto as forças da  mente e do corpo  são necessárias, mas nestes últimos  meses elas têm se deteriorado em mim  ao ponto de  reconhecer minha incapacidade para cumprir adequadamente  o ministério a mim confiado.

Por esta razão, e bem ciente da seriedade deste ato, com  toda liberdade eu declaro que  renuncio ao ministério do Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, outorgado a mim em 19 de abril de 2005 pelos Cardeais, e  deixo a Santa Sé em Roma, a Sé de São Pedro, em 28 de fevereiro de 2013 que ficará vacante, e um conclave terá que ser convocado por aqueles que são competentes para isto,  para eleger o novo Supremo Pontífice.

Caros Irmãos, eu os agradeço  sinceramente por todo amor e trabalho com os quais suportaram  a mim e ao meu ministério e eu peço perdão por todos os meus defeitos. E agora,  vamos deixar à Santa Igreja aos cuidados do  nosso Supremo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e imploro a sua Mãe Maria, para que possa assistir ao Conselho de Cardeais com sua maternal solicitude, em eleger o novo Supremo Pontífice.  Com relação a mim, eu desejo ainda devotadamente servir à Santa Igreja de Deus no futuro através de uma vida dedicada à oração.

Do Vaticano, em 10 de fevereiro de 2013.
BENEDICTUS PP XVI



domingo, 10 de fevereiro de 2013

As igrejas e a evasão do carnaval: a liberdade, o fundamentalismo e o cinismo



Uma resposta ao artigo publicado no Jornal O Globo em 03/02/13, intitulado “as velhas baianas somem da passarela“.

A cultura dos povos são mutáveis por diversas razões, sejam elas pelo incremento de novas ideias, modificações das crenças, pelos comportamentos tornarem-se anacrônicos, pela evolução social ou por qualquer outra razão que a sociedade permitir. Não há que se falar em cultura imposta. Cada grupo, inclusive, é o responsável pela manutenção dos seus elos e traços culturais.

As religiões possuem uma dialética bem democrática também. As pessoas escolhem mudar de religião, ou manterem-se nelas, por razões muito íntimas.  Normalmente buscam nos templos o bem estar espiritual, buscam encontrar Deus. Não acredito que a maioria das pessoas escolham religiões por questões culturais, mas por necessidades espirituais. As pessoas não são fervorosas de suas religiões apenas por imposição familiar ou social. O fervor está associado a fé, à certeza que a pessoa tem e aos resultados que obtém de suas práticas, especialmente em um país em que a liberdade religiosa é garantida.

Há pessoas que defendem que os evangélicos estão causando prejuízos aos quadros do carnaval. Isto porque pessoas de religiões que participam ativamente do carnaval estariam convertendo-se ao evangelho e, com isso, esvaziando setores de escolas de samba e outros. Não faz sentido querer cultivar pessoas em uma ou outra religião para atender interesses econômicos difusos imersos no carnaval. As pessoas não escolherão permanecer ou mudar de uma religião por conta do carnaval ou por qualquer outra festa popular. As pessoas mudam de religião, e nela se mantém, se encontrar conforto espiritual para si e para a sua família.

Por outro lado, nenhum grupo religioso, de sã consciência, pregaria a sua mensagem apenas para esvaziar uma festa popular ou outra religião. As pessoas pregam as mensagens que creem, e, a partir daí, as outras, escolhem se converter, ou não. Depois de convertida, uma pessoa pode, inclusive, se reconverter à religião anterior. A Liberdade Religiosa é um Direito Fundamental previsto na Constituição da República do Brasil e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ser de qualquer religião ou de nenhuma delas é uma escolha personalíssima.

Os religiosos que acreditam no que pregam anunciam às outras pessoas, especialmente aos que sofrem, como encontram conforto para seus sofrimentos, em suas dúvidas, crises e angústias. Não tem como privar uma pessoa de compartilhar este conforto a outra. O carnaval ocorre uma vez por ano e, entre um carnaval e outro, as pessoas têm muitas necessidades a serem supridas.

Por exemplo, as pessoas perdem parentes e amigos que dirigem embriagados, ou mesmo algumas mulheres descobrem que seus maridos envolveram-se com outras mulheres e as engravidaram, ou pessoas descobrem que foram contaminadas com o vírus da aids durante as liberalidades que algumas festas permitem, outras sofrem ou praticam violência. Estas pessoas, depois do carnaval ou não, saem em busca de auxílio, de amparo e de apoio. Quando a festa acaba e o sofrimento vem, a estrutura de exploração econômica-sexual-cultural-filosófica-religiosa sai e deixa os “foliões” ao relento.

O carnaval é uma época propícia para diversas tragédias sociais. Por exemplo, enquanto alguns ensinam: “use camisinha”, o evangelho ensina: “respeita a sua família”. O primeiro conselho ataca o efeito, o segundo ataca a causa. Nesse cenário sociológico-econômico-religioso pessoas também sentem-se oprimidas por espíritos malignos que as atormentam, humilham, exigem coisas terríveis delas. Essas pessoas, em nome de um fundamentalismo histórico-cultural-religioso-econômico-antropológico-artístico, ou qualquer outro, não poderão buscar liberdade do sofrimento? Terão que, em nome do carnaval, manterem-se escravas do seu   sofrimento para alegria de alguns? Trata-se de um objeto de diversão e não de um ser humano?

Evangélicos não dificultam a ocorrência do carnaval, mas ensinam que as pessoas não devem: embriagar-se, prostituir-se, agredir-se, expor sua nudez publicamente, porque o nosso corpo é templo do Espírito Santo. Isso nada tem a ver com o carnaval. Então as pessoas deveriam por um decreto moral-intelectual-fundamentalista manter-se na ética de agradar o que é bom para quem paga? Destruir-se em prol da diversão alheia?

O ano das pessoas, pobres ou ricas, tem 365 dias e todos querem ser felizes. Os que defendem tudo que assistem no carnaval querem ver suas filhas e mulheres despidas rebolando para o mundo em troca de fama de alguns minutos? Querem escravos e escravas que se mantenham em sua “cultura” para atender os caprichos do glamouroso carnaval dos grandes camarins e da alta classe social? Se a coisa é tão boa assim, porque estes aguerridos defensores das práticas do carnaval não convocam seus familiares e amigos para povoarem as brechas deixadas por aquelas pessoas que optam por se converter ao evangelho e perdem o prazer pelas práticas anteriores? Querem manter o status quo do carnaval com o sacrifício alheio?

Se dizer às pessoas que não se embriaguem, não exponham seus corpos publicamente, não sejam objeto de luxúria, não sejam escravizadas por espíritos, por pessoas e por nada é fundamentalismo religioso, querer convencer homens e mulheres a exporem-se pessoalmente, e às suas famílias, e, depois da festa, curtirem, no anonimato, as suas dores, humilhações, doenças, destruição de suas reputações e de suas famílias é uma forma de fundamentalismo cínico e egoísta, que anula qualquer tipo de racionalidade cultural, religiosa ou filosófica.

Se as pessoas encontrarem paz, conforto, segurança, respeito, esperança e bem estar para si e para as suas famílias no carnaval, ou em qualquer religião, as igrejas que pregam o evangelho estarão em risco.  Do contrário, o fluxo vai continuar o mesmo e a cada dia faltarão mais quadros, e teremos nas igrejas mais pessoas recuperadas de seus sofrimentos e opressões. Os proselitistas da festa da carne devem arrumar argumentos melhores para convencer as pessoas a submeterem-se aos riscos carnavalescos, juntamente com as suas famílias, pois, do contrário, as pessoas farão a escolha mais racional e segura para si. Em uma democracia há que se celebrar a liberdade de escolha: se as pessoas deixam de lado os tamborins do carnaval para tocarem a trombeta em Sião, haveremos de convir que em Sião estão encontrando conforto, paz, esperança e salvação e, a partir daí, proclamarão como o Rei Davi: “Cantai louvores ao Senhor, que habita em Sião; anunciai entre os povos os seus feitos”. Salmos 9:11. Com tantas pessoas proclamando os feitos do Senhor Jesus em suas vidas, não há como outras também não encontrarem o Caminho.

Fonte:http://www.prazerdapalavra.com.br