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sábado, 23 de março de 2013

JUDAÍSMO, JUDEUS E JUDAIZANTES




Já nos primórdios da Igreja o apóstolo Paulo teve que combater as tendências da heresia judaizante. Na epístola aos Gálatas ele adverte àqueles que foram distraídos pelo judaísmo e sua lei para que voltassem à graça do evangelho de Cristo. Também deixa bem claro que o judaísmo, assim como todo sistema religioso, faz parte deste "mundo mau". O apóstolo destaca que o propósito de Cristo, ao entregar-se pelos nossos pecados, era nos resgatar e nos tirar da religião judia e do "presente século" (cf. Gálatas 1.1 - 12).
Nos últimos cinqüenta anos as igrejas evangélicas têm sofrido uma notável atração por tudo o que possa ser relacionado a "Israel". A adoção do linguajar velho-testamentário, o estilo de adoração, a celebração de festas do calendário levítico não são mais que a parte visível do grave desvio doutrinário existente. Há uma tendência generalizada a acreditar que o atual Estado de Israel, os judeus como povo e a religião do Velho Testamento estão revestidos do favor divino.
Para sermos claros em nossa exposição queremos antes aclarar o que entendemos por judaísmo, judeus e judaizantes. Judaísmo é a formação social, cultural, política e religiosa do povo hebreu, baseada dogmaticamente no Velho Testamento e na tradição rabínica. De acordo com o uso comum na atualidade, o termo judeu faz referência à pessoa de descendência hebraica ou a outra convertida ao judaísmo. Conseqüentemente, judaizante é toda pessoa que observa, pratica e divulga os ritos e leis do judaísmo.
Em sete breves teses esperamos lançar luz sobre o assunto, e conclamar a Igreja para voltar aos padrões de fé da Nova Aliança firmada no sangue precioso de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador (cf. Hb 7 - 10).

O Israel natural foi eleito e estabelecido para receber a revelação de Deus e preparar o mundo para a chegada do Salvador.

O SENHOR escolheu Israel como depositário dos oráculos divinos, e como um povo sacerdotal para adorar ao único Deus verdadeiro. "Agora, se me obedecerem e cumprirem a minha aliança vocês serão o meu povo. O mundo inteiro é meu, mas vocês serão o meu povo, escolhido por mim. Vocês são um povo separado somente para mim e me servirão como sacerdotes." Ex 19.5 - 6 (cf. Rm 3.1,2)
No seio do seu povo eleito o SENHOR prometeu que nasceria o Salvador do mundo, por meio dos profetas Ele anunciou que estabeleceria uma Nova e Eterna Aliança com todas as nações. O propósito da existência de um povo separado era esse somente. "Vamos subir o monte do SENHOR, vamos ao Templo do Deus de Israel. Ele nos ensinará o que devemos fazer, e nós andaremos nos seus caminhos. Pois os ensinamentos do SENHOR vêm de Jerusalém; do monte Sião ele fala com o seu povo." Is 2.3 (cf. Jr 31.31 - 34; Jo 4.22).

Os judeus naturais, na atualidade, não são o povo escolhido de Deus.

Os judeus, ainda hoje, crêem que o povo de Israel goza de uma relação especial e exclusiva com o SENHOR Deus. Através da história essa tem sido a idéia fundamental para a unidade, e sobrevivência, do povo hebreu. Do ponto de vista judeu Deus tem dois propósitos, um para Israel e outro para as nações (cf. Dt 7.6 - 8; Ex 19.5).
Numerosos cristãos têm o mesmo pensamento. Sem perceber que se trata de propaganda dos interesses da política norte-americana, a "direita evangélica" sente fascinação com Israel e crê que tudo quanto Israel faz deve ser apoiado e aprovado porque Deus está com Israel. Há alguns que, negando o claro ensino do Novo Testamento que Deus "rejeitou o povo de Israel" substituindo-o pelo "novo Israel", dizem que a aliança entre Deus e o povo judeu é eterna. Outros dizem que, no fim dos tempos, o Senhor obrará a conversão e a salvação de todo o Israel natural. Há, todavia, alguns que adotam a idéia de que sempre existiu uma relação inseparável entre Deus e Israel, chegando à conclusão de que somente os gentios deveriam se reconciliar com Deus mediante Jesus Cristo. "Jesus então perguntou: Vocês não leram o que as Escrituras Sagradas dizem? 'A pedra que os construtores rejeitaram veio a ser a mais importante de todas. Isso foi feito pelo SENHOR e é uma coisa maravilhosa!' E Jesus terminou: Eu afirmo a vocês que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado para as pessoas que produzem os frutos do Reino." Mt 21.42 - 43 (cf. Mt 23.37 - 38).

A aliança abraámica não é garantia de que os judeus são, atualmente, o povo escolhido de Deus.

Do ponto de vista do SENHOR Deus, pertencer à linhagem carnal de Abraão não é fator determinante para herdar as bênçãos da descendência dele. "Porque vocês foram batizados para ficarem unidos com Cristo e assim se revestiram com as qualidades do próprio Cristo. Desse modo não existe diferença entre judeus e não-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus. E, já que vocês pertencem a Cristo, então são descendentes de Abraão e receberão aquilo que Deus prometeu." Gl 3.27 - 29 (cf. Jo 8.39).

Não existe salvação fora de Cristo.

Quando os apóstolos se viram confrontados com as autoridades do povo de Israel não duvidaram em testemunhar: "Jesus é aquele de quem as Escrituras Sagradas dizem: 'A pedra que vocês, os construtores, rejeitaram veio a ser a mais importante de todas.' A salvação só pode ser conseguida por meio dele. Pois não há no mundo inteiro nenhum outro que Deus tenha dado aos seres humanos, por meio do qual possamos ser salvos." At 4.11 - 12 (cf. Jo 14.6). Isso significa que, embora o povo judeu não desfrute mais do favor especial de Deus, existe a possibilidade para que os judeus individuais, assim como pessoas de todas as línguas, raças e nações, conheçam e se beneficiem da salvação em Cristo Jesus.
Os sacrifícios e leis da Velha Aliança mostram que o povo precisava de intercessão e perdão, porém eles não podiam operar a salvação eterna. Os profetas anunciaram que Deus, por meio do Messias, iria "terminar com o pecado e perdoar a iniqüidade" (cf. Is 53.1 - 12; Dn 9.24 - 27). Será que Deus poderia aceitar um povo que rejeitou, e ainda rejeita, o Salvador que Ele mesmo enviou?

Nem todos os judeus se converterão e alcançarão a salvação.

Quando Paulo diz que "todo o povo de Israel será salvo" devemos entender que está salvação se realiza não mediante a conversão de todos os judeus, mas pela "vinda" das nações. A confusão é causada, muitas vezes, porque algumas traduções vertem o versículo 26 assim: "E então, depois disso (hoútos), o restante de Israel será salvo." Todavia, a tradução mais adequada de hoútos é: "assim, desta forma, desta maneira, desse modo."
"Meus irmãos, quero que vocês conheçam uma verdade secreta para que não pensem que são muito sábios. A verdade é esta: a teimosia do povo de Israel não durará para sempre, mas somente até que o número completo dos não-judeus venha para Deus. É assim que todo o povo de Israel será salvo." Rm 11.25 - 26.
Outro ponto a ser considerado, para compreender o sentido exato, é o que Paulo escreveu precedentemente em Rm 2.28,29: "Portanto, eu pergunto: quem é judeu de fato e circuncidado de verdade? É claro que não é aquele que é judeu somente por fora e circuncidado só no corpo. Pelo contrário, o verdadeiro judeu é aquele que é judeu por dentro, aquele que tem o coração circuncidado; e isso é uma coisa que o Espírito de Deus faz e que a lei escrita não pode fazer." E, em Rm 9.6: "De fato, nem todos os israelitas fazem parte do povo de Deus."

Os acontecimentos atuais no Estado de Israel não são o cumprimento da profecia bíblica.

Lembramo-nos das palavras pronunciadas por um querido amigo, estudante do Seminário Rabínico Latino-Americano em Buenos Aires: "A esperança de Israel é ser restaurado pelo Messias. O atual Estado de Israel foi estabelecido pelos britânicos em 1948. A pergunta, então, é, são os britânicos, ou os norte-americanos, o Messias?" Os líderes do Estado de Israel não atribuem o seu estabelecimento a Deus, nem esperam nele para a sua sobrevivência, senão nos EUA e o seu poderio bélico.
O ideal profético é um reino de paz, onde será adorado o verdadeiro Deus, e onde as armas de guerra se tornarão instrumentos de trabalho. Mas a situação atual de Israel é completamente diferente; está submerso em constantes conflitos, no monte do Templo há uma mesquita muçulmana e, para sua estabilidade, dependem do poder militar e o apoio dos EUA. "No futuro, o monte do Templo do SENHOR será o mais alto de todos e ficará acima de todos os montes. Os povos de todas as nações irão correndo lá e dirão assim: 'Vamos subir o monte do SENHOR, vamos ao Templo do Deus de Israel. Ele nos ensinará o que devemos fazer, e nós andaremos nos seus caminhos. Pois os ensinamentos do SENHOR vêm de Jerusalém; do monte Sião ele fala com o seu povo.' Deus será juiz das nações, decidirá questões entre muitos povos. Eles transformarão as suas espadas em arados e as suas lanças, em foices. Nunca mais farão guerra, nem se prepararão para batalhas." Is 2.2 - 4.
A profecia diz que o SENHOR Deus restabeleceria o reino de Israel sob o reinado dum monarca da linhagem de Davi. O Estado de Israel é uma república. "Então diga-lhes que eu, o SENHOR Deus, tirarei os israelitas do meio das nações para onde foram. Eu os ajuntarei e os levarei de volta à sua própria terra. Farei deles uma só nação na sua terra, nas montanhas de Israel. Eles terão um só rei para governa-los." Ez 37.21,22.
Os acontecimentos no Israel contemporâneo devem ser encarados como o que realmente são, uma parte dos acontecimentos globais preditos nas Escrituras. Uma entidade política, estabelecida pelas superpotências para garantir o seu poder e domínio sobre aquela região, não pode ser tomada como o cumprimento das promessas do Altíssimo. O espírito que anima os atos do Estado de Israel inclui guerras, negação de Deus e amor ao dinheiro, todas coisas contrárias à lei do SENHOR!

As profecias sobre a restauração de Israel se cumpriram, e se cumprem, entre o "Israel de Deus", a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo.

Deus estabeleceu um novo e eterno pacto, por meio de Jesus Cristo, cumprindo assim a profecia de Jeremias 31.31 - 34. Esta nova aliança foi feita com os fieis discípulos de Jesus, não com o povo judeu. "Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue, derramado em favor de vocês." Lc 22.20 "Pois, se a primeira aliança tivesse sido perfeita, não seria necessária uma nova aliança. E, quando Deus fala da nova aliança, é porque ele já tornou velha a primeira. E o que está ficando velho e gasto vai desaparecer logo." Hb 8.7,13.
O "Israel de Deus" não está constituído pelos descendentes naturais de Abraão, antes, como Paulo declara em Gl 3.26 - 29, Deus constitui filhos e herdeiros de Abraão àqueles que pertencem a Cristo e são gerados pelo Espírito Santo. "Não faz nenhuma diferença se o homem é circuncidado ou não; o importante é que ele seja uma nova pessoa. E, para todos os que seguem essa regra na sua vida, que a paz e a misericórdia estejam com eles e com todo o povo (Israel) de Deus!" Gl 6.15,16.

Palavras finais.

A autoridade da doutrina e prática cristã é o Novo Testamento, sem tradições, sem concílios eclesiásticos, e sem misturas com a religião da antiga aliança.
Os verdadeiros cristãos magnificam o Novo Testamento como a sua autoridade, e se esforçam por reproduzir os seus ensinamentos. As doutrinas básicas que caracterizam a fé cristã novo-testamentária são:
- Separação do espírito do Mundo; sob a antiga aliança os interesses da religião estavam sempre ligados aos interesses do Estado, ao domínio e à ganância.
- Não-violência; sob o velho pacto o povo de Deus podia participar do governo, da guerra, e levar causas diante dos juizes seculares, mas o Senhor Jesus disse aos seus discípulos: "amem aos seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês." Mt 5.44 (cf. Mt 5.38 - 48).
- Simplicidade; a medida da aprovação de Deus, sob a antiga aliança, era a quantidade de riquezas que alguém acumulava, mas os verdadeiros cristãos têm os seus tesouros no céu: "Pois, onde estiverem as suas riquezas, ai estará o coração de vocês." Mt 6.21 (cf. Mt 6.24 - 34).
Nas palavras de Leonhard Schiemer: "Embora seja bom lermos nos [livros dos] profetas, nos [livros dos] reis, e em [os livros de] Moisés, não é absolutamente necessário [para a salvação]. Encontra-se tudo no Novo Testamento."

Fonte: http://www.teologiaclub.com

sábado, 16 de março de 2013

Um sacrifício com cheiro de intercessão



Gn 8.20-22

No princípio as expressões latentes da criatura eram comunhão e intimidade – sem música escrita nem orações formuladas – homem e mulher relacionavam-se com Deus. Após a queda, perderam acesso ao lugar de Deus para eles: O Éden- a contínua provisão, comunhão e intimidade. A humanidade dá início a um processo de corrupção da raça entristecendo o coração de Deus, que resolve “lavar” a terra com um dilúvio, separando para si a família de Noé.

40 dias e 40 noites de chuva. Um barco preparado e habitado por animais de todas as espécies e uma família. Cumprido o tempo, baixando as águas, Noé sai da arca com sua família e ergue um altar no qual oferece um holocausto ao Senhor com animais limpos. O cheiro agradável sobe às narinas de Deus, que declara: Não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem. Era um homem diante de Deus a favor dessa terra – um sacrifico com cheiro de intercessão. Nas primeiras ações intercessórias algumas essências são reveladas:

1-    Um holocausto - nesse tipo de sacrifício havia fogo contínuo. Assim como ontem, a intercessão hoje é uma obra de fogo contínuo. Requer coração quebrantado, tratado e aquecido pelo fogo do Espírito;
2-    Nesse sacrifico a oferta era totalmente consumida - Assim como ontem a intercessão hoje requer entrega total – rendição como sinal de confiança. Não há intercessão sem confiança em Deus e no Seu poder;
3-    Sacrifico como ação de graça - Foi assim que Noé fez. Assim como ontem, hoje a intercessão é um exercício de alargar as cordas da fé com base na experiência de reconhecimento da ação contínua de um Deus que trabalha enquanto descansamos;
4-    Enquanto durar a terra não deixará de haver sementeira - Assim como ontem, hoje a intercessão é uma obra de frutos visíveis, muitos frutos, frutos permanentes, que trazem a manifestação, no visível, da bênção da provisão.

Noé estava diante de um grande desafio: Recomeçar. Seu sacrifício era uma estratégia para cumprir essa obra. Isso foi agradável às narinas de Deus.
O cheiro de ontem se alastra até hoje e nos envolve numa atmosfera espiritual de recomeço.
Que o novo mês traga a sinalização do novo de Deus sobre nós, nossas famílias e ministérios.

Soraya de Lima Junker
Ministério Toque de Poder

quinta-feira, 14 de março de 2013

Escrito egípcio antigo descreve Jesus como mutante e diz que Pôncio Pilatos esteve na Santa Ceia




Um texto egípcio antigo, com mais de 1,2 mil anos, conta uma versão diferente de alguns fatos narrados pela Bíblia, e apresenta Jesus como alguém com capacidade de mudar de aparência, um mutante.
No texto, que só foi decifrado há pouco tempo, Jesus teria celebrado a Santa Ceia com a presença de Pôncio Pilatos, o governante que lavou as mãos e permitiu sua crucificação. Outro dado curioso do texto é que ele assegura que a celebração teria ocorrido na terça-feira, e não na quinta, como diz a tradição.
O pesquisador Roelof van den Broek, que publicou a tradução do texto no livro Pseudo-Cyril of Jerusalem on the Life and the Passion of Christ (em tradução livre, Pseudo Cirilo de Jerusalém sobre a Vida e a Paixão de Cristo) diz ser importante frisar que este relato não pode garantir que os fatos são exatamente estes, embora demonstre que existiram pessoas que acreditavam que essa era a versão correta.
De acordo com o LiveScience, atualmente, sabe-se da existência de duas cópias do mesmo texto, que foi escrito na linguagem copta, que era usada pelo povo egípcio durante o período helenístico e no tempo sob dominação romana. Uma das cópias está na Biblioteca e Museu Morgan em Nova York e a outra no Museu da Universidade da Pensilvânia.
Um trecho do documento relata o encontro secreto de Jesus com Pilatos: “Sem maior tumulto, Pilatos preparou a mesa e comeu com Jesus no quinto dia da semana. E Jesus abençoou Pilatos e toda a sua casa […] (depois, Pilatos disse a Jesus) bem, observe, a noite chegou, levante-se e bata em retirada, e quando a manhã chegar e eles me acusarem por sua causa, eu devo dar a eles o único filho que tenho para que eles possam matá-lo em seu lugar”.
O texto complementa afirmando que Jesus teria agradecido a Pilatos por sua boa vontade, mas recusado a oferta mostrando que teria outros meios para fugir da perseguição dos soldados.
O pesquisador que publicou o livro sobre o tema diz que na Igreja Copta e em outras igrejas da Etiópia, Pilatos é tido como um santo, o que explicaria a forma mais simpática com que ele é descrito nesse texto.
Sobre a mudança de características de Jesus, o texto egípcio diz que as pessoas o viam de formas diferentes: “Então os judeus disseram a Judas: como vamos prendê-lo (Jesus), pois ele não tem uma única forma, sua aparência muda. Às vezes ele é corado, às vezes ele é branco, às vezes ele é vermelho, às vezes ele tem cor de trigo, às vezes ele é pálido como um asceta, às vezes ele é um jovem, às vezes um velho…”. O pesquisador diz que essa descrição corrobora o conceito de que o beijo dado por Judas na face de Jesus teria sido uma forma de mostrar aos soldados quem era o alvo.
“Essa explicação do beijo de Judas foi encontrada primeiro em Orígenes [um teólogo que viveu de 185 a 254]“, explica o pesquisador, que menciona ainda que Orígenes registrou em uma de suas obras que “para aqueles que o viam, [Jesus] não aparecia da mesma forma para todos”.
O pesquisador Van den Broek ressalta ainda que “no Egito, a Bíblia já havia se tornado canônica no quarto/quinto século, mas histórias apócrifas e livros permaneceram populares entre cristão egípcios, especialmente entre monges”, o que daria margem às diversas versões da história.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+

domingo, 10 de março de 2013

O colapso de sua teologia: razão maior da renúncia de Bento XVI?




É sempre arriscado nomear um teólogo para a função de Papa. Ele pode fazer de sua teologia particular, a teologia universal da Igreja e impô-la a todo o mundo. Suspeito que esse foi o caso de Bento XVI, primeiramente enquanto Cardeal, nomeado Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé (ex-Inquisição) e depois Papa. Tal fato não goza de legitimidade  e se transforma em fonte de condenações injustas. Efetivamente condenou mais cem teólogos e teólogas  por não se enquadrarem em sua leitura teológica da Igreja e do mundo.        
Razões de saúde e o sentimento de impotência face à gravidade da crise na Igreja, o levaram a renunciar. Mas não só. No texto de sua renúncia dá conta da “diminuição  de vigor do corpo e do espírito”e de “sua incapacidade” de enfrentar as questões que dificultavam o exercício de sua missão. Por detrás desta formulação, estimo que se oculta a razão mais profunda de sua renúncia: a percepção do colapso de sua teologia e do fracasso do modelo de Igreja que quis implementar.  Uma monarquia absolutista não é tão absoluta a ponto de dobrar a inércia de envelhecidas estruturas curiais.
As teses centrais de sua teologia sempre foram problemáticas para a comunidade teológica. Três delas  acabaram refutadas pelos fatos: o conceito de Igreja como “pequeno mundo reconciliado”; a Cidade dos Homens só ganha valor diante de Deus passando pela mediação da Cidade de Deus; e o famoso “subsistit” que significa: só na Igreja Católica subsiste a  verdadeira Igreja de Cristo; todas as demais “igrejas’ não podem ser designadas igrejas. Esta compreensão estreita de uma inteligência aguda mas refém de si mesma, não tinha a força intrínseca suficiente e a adesão para ser implementada. Bento XVI teria reconhecido  o colapso e coerentemente renunciado?  Há razões para esta hipótese.
O Papa emérito teve em Santo Agostinho seu mestre e inspirarador, objeto aliás de algumas conversas pessoais com ele.  De Agostinho assumiu a perspectiva de base, começando com sua exdrúxula teoria do pecado original (se transmite pelo ato sexual da geração). Isso faz  com que  toda a humanidade seja uma “massa condenada”. Mas dentro dela, Deus por Cristo, instaurou uma célula salvadora, representada pela Igreja. Ela é “um pequeno mundo reconciliado” que tem a representação (Vertretung) do resto da humanidade perdida. Não é necessário que tenha muitos membros. Basta poucos, contanto que sejam puros e santos. Ratzinger incorporou esta visão. Completou-a com a seguinte reflexão: a Igreja é constituida por Cristo e os Doze Apóstolos. Por isso é apostólica. Ela é apenas este pequeno grupo. Desconsidera os discípulos, as mulheres e  as massas que seguiam Jesus. Para ele não contam. São atingidas pela representação (Vertretung) que “o pequeno mundo reconciliado” assume. Esse modelo eclesiológico não dá conta do vasto mundo globalizado. Quis então fazer da Europa “o mundo reconciliado” para reconquistar a humanidade. Fracassou porque o projeto não foi assumido por ninguém e até posto a ridículo.        
A segunda tese tirada também de Santo Agostinho é sua leitura da história: o confronto entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens. Na Cidade de Deus está a graça e a salvação: ela é o único pedágio que dá acesso à salvação. A Cidade dos Homens é construída pelo esforço humano. Mas como já é contaminado, todo o seu humanismo e demais valores,  não conseguem salvar porque porque não passaram pela mediação da Cidade de Deus (Igreja). Por isso que ela é eivada de relativismos. Consequentemente o Card. Ratzinger condena duramente a teologia da libertação porque esta buscava a libertação pelos pobres mesmos, feitos sujeitos autônomos de sua história. Mas como não se articula com a Cidade de Deus e sua célula, a Igreja,  é insuficiente e  vã.
A terceira é uma interpretação pessoal que dá do Concílio Vaticano II quando fala da Igreja de Cristo. A primeira elaboração conciliar dizia que a Igreja Católica é  a Igreja de Cristo. As discussões, visando o ecumenismo, substituíram o é pelo subsiste para dar lugar a que outras Igrejas cristãs, a seu modo, realizassem também a Igreja de Cristo. Essa interpretação sustentada na minha tese doutoral, mereceu uma explícita condenação do Card.Ratzinger no seu famoso documento Dominus Jesus (2000). Afirma que susbsiste vem de “subsistência” que só pode ser uma e se dá na Igreja Católica. As demais “igrejas” possuem “somente” elementos eclesiais. Esse “somente” é um acréscimo arbitrário que fez ao texto oficial do Concílio.  Tanto eu quanto outros notáveis teólogos mostramos que este sentido essencialista não existe no latim. O sentido é sempre concreto: “ganhar corpo”, “realizar-se objetivamente”. Esse era o “sensus Patrum” o sentido dos Padres conciliares.
Estas três teses centrais foram refutadas pelos fatos: dentro do “pequeno mundo reconciliado” há demasiados pedófilos até entre cardeais e ladrões de dinheiros do Banco Vaticano. A segunda, de que a Cidade dos Homens não tem densidade salvadora diante de Deus, labora num equívoco ao restringir a ação da Cidade de Deus apenas ao campo da Igreja. Dentro da Cidade dos Homens, se encontra também a Cidade de Deus, não sob a forma de consciência religiosa mas sob a forma de ética e de valores humanitários. O Concílio Vaticano II garantiu a autonomia das realidades terrestres (outro nome para secularização) que tem valor independentemente da Igreja. Contam para Deus. A Cidade de Deus (Igreja) se realiza pela fé explícita, pela celebração e pelos sacramentos. A Cidade dos Homens pela ética e pela política.
A terceira de que somente a Igreja Católica é a única e exclusiva Igreja de Cristo e ainda mais, que fora dela não há salvação, tese medieval ressuscitada pelo Card. Ratzinger, foi simplesmente ignorada como ofensiva às demais Igrejas. Ao invés do “fora da Igreja não há salvação” se introduziu no discurso dos Papas e dos teólogos “o universal oferecimento da salvação a todos os seres humanos e ao mundo”.
Nutro a séria suspeita de que, tal fracasso e colapso de seu edifício teológico, lhe tirou “o necessário vigor do corpo e do espírito” a ponto de, como confessa “sentir incapacidade” de exercer seu ministério. Cativo de sua própria teologia, não lhe restou outra alternativa senão honestamente renunciar.

Fonte:http://leonardoboff.wordpress.com